Na disputa pela secretaria-geral do partido, base operária reuniu-se em torno de sua candidatura
No dia 21 de maio, depois de duas semanas de campanha interna, com dezenas de reuniões públicas e de comícios, houve a eleição para o cargo de secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). A votação registrou comparecimento de 92% dos 187,6 mil filiados ao partido. Desses, 50% votaram no ex-secretário-geral Pedro Sánchez, 40% em Susana Díaz e 10% em Patxi López.
O que cada um deles representa?
Sánchez conseguiu reunir em torno de si a maioria dos militantes do movimento operário que desejam se reapropriar de seu partido para colocá-lo à frente da luta contra o governo direitista de Mariano Rajoy e pelas reivindicações centrais: revogação da reforma do Código do Trabalho, do artigo 315.3 do Código Penal (que criminaliza greves), defesa do regime público de aposentadorias, de uma solução política para a Catalunha. Uma carta, assinada por mais de mil sindicalistas filiados ao partido, havia manifestado apoio a Sánchez.
De outro lado, a quase totalidade da velha direção do PSOE, a começar por Felipe González (apoiador maior da monarquia e do capital financeiro), com a ajuda dos grandes jornais, do “El País” ao “ABC” (porta-voz da Casa Real), fez campanha por Susana Díaz, atual presidente do governo regional de Andaluzia. No ano passado, ela orientou a abstenção da bancada do PSOE no Parlamento, permitindo assim a constituição do novo governo Rajoy.
O terceiro candidato, Patxi López, sem ter uma posição em particular, foi colocado pelo aparelho do partido para tentar dividir os votos.
A batalha no PSOE continua. Neste mês ocorrerá o congresso do partido, quando novamente vão se enfrentar os apoiadores de Sánchez e de Díaz.
Ataques dos jornais
Logo após o anúncio do resultado da eleição, houve várias declarações contra Sánchez. Os editoriais do “El País”, jornal que se diz “progressista”, do “ABC” e de “La Razón” (extrema direita) tiveram o mesmo tom. “Quem ganhou foi a cultura da revanche histórica, o questionamento da transição (da ditadura), de ruptura da Constituição. Reconduzir esses militantes ao compromisso, aos valores da política de pacto com a direita foi impossível. A divisão social está aí.”
Esses mesmos jornais fizeram apelo ao aparelho partidário para usar o bisturi, ou seja, limpar o PSOE da maioria de seus militantes. Sem pudor, escreveram que Sánchez conduzirá o partido à marginalidade. Esse argumento ignora que, na Alemanha, por exemplo, o Partido Social-Democrata (SPD) acaba de sofrer uma derrota histórica em seu reduto da Renânia do Norte-Vestefália, por abandonar posições defendidas por sua base social operária.
O declínio do PSOE, a perda constante de militantes e de votos teve como ponto de partida o dia 10 de maio de 2010, quando o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero aprovou um plano brutal de austeridade e uma primeira reforma do Código do Trabalho. Isso provocou, segundo o então secretário-geral da central sindical UGT, Cándido Méndez, uma ruptura com a classe operária.
O resultado dessa eleição interna é um reflexo direto da resistência da classe operária, que se manifesta em todas as suas organizações. A luta prossegue, e nenhum militante operário comprometido com a defesa dos direitos sociais e democráticos pode se considerar neutro.
artigo originalmente publicado na edição nº 808 do Jornal O Trabalho