Em 19 de janeiro manifestantes inundaram as ruas da capital Lima, enquanto ocorria uma paralisação geral convocada pela CGTP (central sindical) exigindo a saída de Dina Boluarte da presidência. Foi, até o momento, o ponto mais alto das mobilizações que continuam, com a repressão brutal do governo já atingindo a marca de 60 mortes. O que falta é centralizar a vontade de luta da maioria oprimida. Abaixo trechos do editorial do jornal “El Trabajo” nº 238, saído às vésperas da assembleia de delegados da CGTP de 14 de janeiro e da chegada das primeiras levas da marcha vinda das regiões a Lima.
“Convulsão política e semi-insurreição”
“O golpe parlamentar de uma maioria congressual reacionária que destituiu Castillo para impor o governo ‘de facto’ de Dina Boluarte desatou a indignação das massas trabalhadoras, camponesas e populares contra o sistema e suas instituições (Congresso, Executivo, Poder Judiciário) e contra a falta de hospitais, de trabalho, contra as privatizações, a carestia dos alimentos. A rebelião popular atingiu o nível de convulsão política e semi-insurreição.
O Estado de Emergência decretado pelo governo (…) entregou o país às Forças Armadas e Policiais que desataram uma repressão com mais de 40 cidadãos assassinados, invasão de locais da Confederação Camponesa e de Novo Peru, com 26 dirigentes sindicais e populares presos. Mas a luta continua e se estendeu a todo o país, com maior força no sul e no centro, contagiando o norte e o oriente da nação. Dizemos: Abaixo o Estado de Emergência, nem mais um morto!
O governo em crise e cambaleante busca sobreviver combinando a repressão com o diálogo social e o “consenso”. Este último objetivo, desenhado com a convocação do Conselho de Estado, a reunião com as organizações sociais de Cuzco, a Marcha pela Paz dirigida desde o Ministério do Interior, fracassou. Também se quebrou o plano do Acordo Nacional de 9 de janeiro, pelo rechaço da CGTP e das Frentes Regionais em participar (…).
Hoje está claro que por trás do golpe de Estado está a mão da Casa Branca através da sua embaixadora Lisa Kenna, apontada como agente da CIA. (…) Os velhos interesses econômicos dos EUA, sobretudo na mineração peruana, e seu objetivo hegemônico no continente requeriam uma troca de comando no Poder Executivo.
Por um Comando Nacional Unitário
Em 28 de dezembro reuniram-se em Arequipa representantes das organizações de oito regiões do sul do país e decidiu-se iniciar uma greve por tempo indeterminado em 4 de janeiro pelo fechamento do Congresso, a saída de Dina Boluarte, liberdade para Castillo e os dirigentes presos, convocação de uma Assembleia Constituinte. A partir daí, uma segunda onda de greves e mobilizações contra o governo se desenvolveu nas regiões do país (…).
‘El Trabajo’ considera que os acordos da Assembleia Macro-regional Sul indicam o caminho a seguir. Que a CGTP e centrais sindicais, o Comitê Promotor da Assembleia Nacional dos Povos (ANP), Frentes de Defesa e Comandos Unitários Regionais constituam com urgência um Comando Nacional Unitário que unifique a luta em todo o país numa Paralisação Nacional Cívica Popular até a queda do governo assassino de Dina Boluarte, bem como se engaje na Marcha Nacional a Lima dos Quatro Suyos (províncias do antigo império Inca, NdT), articuladas à luta por uma Assembléia Constituinte Soberana e com Poder que ajude a romper com a dependência, a dominação imperialista e a ditadura dos monopólios que saqueiam, exploram e mantém o atraso da nação.”
Correspondente