O PIB (toda a produção do país) caiu 0,2% neste 1º trimestre de 2019, com os investimentos empresariais despencando 1,7% e a indústria manufatureira chegando à menor participação no PIB da história (10,4% do PIB). Consequentemente, o desemprego e a sub-ocupação mantém-se insistentemente em patamares acima dos 25%. E a renda média da família trabalhadora se deteriora.
Após quedas consecutivas em 2015 e 2016, crescimento pífio, próximo a zero, em 2017 e 2018, o PIB do país volta a cair – mantendo-se ainda cinco por cento menor que o do final de 2014. Analistas do “mercado” – até há pouco animados com a eleição de Bolsonaro – já vislumbram um novo crescimento negativo do PIB em 2019. O que fará desta, a mais longa recessão da história do país – uma verdadeira depressão econômica.
Mercados e golpistas
Após um período de crescimento da produção e do emprego durante os três primeiros mandatos do PT, o empresariado resistia em manter seus investimentos, reclamando – sobretudo com a crise internacional pós 2009 – de baixa lucratividade. Golpistas, mídia e “mercados” financeiros diziam que bastaria fazer um bom ajuste fiscal (cortar gastos públicos), que as “expectativas” empresariais melhorariam e um boom de investimentos faria o PIB acelerar.
Sob pressão dos golpistas, que ameaçavam derrubá-la, Dilma aceitou fazer tal ajuste com o ministro-ban queiro Levy no início de 2015. Não satisfeitos, esses golpistas passaram a dizer que seria necessário também “tirar o petê”, cortar ainda mais gastos públicos e fazer a reforma trabalhista (e previdenciária) para reduzir custos.
O gráfico acima mostra o resultado disso. Com o golpe, do início de 2016 em diante, os investimentos empresariais e a produção industrial despencaram ainda mais. Os cortes e o congelamento nos gastos do governo (institucionalizados pela EC-95 de Temer) forçaram o setor público a reduzir seus contratos com fornecedores privados. Construção de escolas, pontes, hospitais foram suspensas e empresas contratadas demitiram, faliram ou cortaram investimentos provocando um efeito dominó ao longo da cadeia produtiva. Para piorar, a Lava-Jato forçou a quebra dos investimentos da Petrobras e de toda a indústria petroquímica e de construção civil.
Miragens bolsonaristas
A eleição de Bolsonaro – com sua promessa de intensificar cortes de gastos, privatizações e radicalizar a reforma trabalhista (carteira-verde amarela) e da Previdência – gerou aumento da “confiança empresarial” e alta na bolsa. Não mais que miragens, tais expectativas, não garantem retomada de investimentos produtivos. Pois isso só ocorreria se houvesse boas perspectivas de venda (“demanda efetiva”). Mas a economia internacional segue fraca, o consumo das famílias (mais empobrecidas) anda de lado e o governo iniciou seu mandato aprofundando os cortes de gastos públicos.
O gasto federal (cerca de 20% do PIB) caiu em março 3,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O PIB do primeiro trimestre deste ano foi reduzido 0,24% (frente a 2018) apenas devido a tal corte. E o corte nos governos regionais foi ainda mais drástico, com um forçado superávit primário.
Já o consumo das famílias desacelerou nos últimos dois trimestres. Mantidos nos últimos três anos em níveis sempre abaixo dos patamares pré-golpe, não há perspectivas de recuperação dada a alta no desemprego e a fraco rendimento médio real – além piora na desigualdade do mesmo. Ademais, temores da perda de emprego formal com a reforma trabalhista e o endividamento das famílias com as altas taxas de juros dos bancos limitam a retomada do consumo.
A balança comercial (exportações menos importações), que se recuperaram em 2017 devido a queda na demanda interna (por importações), retraiu (1,9%) neste primeiro trimestre de 2019. Isso é resultado da crise comercial e geopolítica internacional e regional (Brexit, crise EUA-China etc).
A Reforma da Previdência e da seguridade, ao contrário do que diz o governo e a mídia, não trará quaisquer condições de recuperação do PIB ou do emprego. Ao contrário retirará renda das famílias trabalhadoras. Seriam 6% (R$ 17 bilhões por ano) retirados apenas dos 24 milhões de trabalhadores e aposentados que ganham até 2 salários mínimos. Isso provocaria um efeito dominó: queda do consumo das famílias e, portanto, nos investimentos empresariais derrubando mais o PIB e a arrecadação de impostos e das próprias contas públicas, numa espiral que leva ao colapso econômico.
Mas os “mercados” querem lucro, e rápido. Estão, contudo, cada vez mais nervosos com a inépcia de Bolsonaro e seus ministros. O fato é que o governo Bolsonaro aprofunda a desindustrialização e o colapso econômico em passos largos.
Alberto Handfas