Revolução argelina completa um ano

Na sexta-feira e sábado, 21 e 22 de fevereiro, um ano após o início da revolução (22 de fevereiro de 2019), o povo argelino saiu às ruas em todas as cidades do país. A palavra de ordem dominante foi: “Não estamos aqui para festejar, mas para que todos vocês saiam!”

Dois dias antes, o presidente Tebboune, tentara flertar com as massas dirigindo-se ao “Hirak béni” [movimento abençoado NdT] e anunciando que, daqui em diante, o 22 de fevereiro seria um dia nacional para marcar “a fraternidade e a coesão do povo com seu exército”. De certa forma, o presidente Tebboune decidiu institucionalizar seu “abençoado Hirak”, enquadrado pelo exército, no contexto do regime. A reação, na sexta-feira e no sábado, foi um repúdio categórico às pretensões do presidente.

Ele não se cansa de anunciar um “diálogo” com todos os partidos, sindicatos, associações, com objetivo de “reformar” o regime. Mas, ao mesmo tempo, a repressão contra os manifestantes, os militantes e contra os trabalhadores continua. A propósito da greve da empresa aérea Air Algerie e da greve dos professores, o presidente Tebboune declarou que “a sucessão de greves nos setores importantes tem um ‘timing’ determinado, não é um fenômeno saudável nem uma prática sindical, trata-se aqui de política politiqueira”.

Além disso, o presidente Tebboune indicou, depois de algumas cobranças, que não haverá dissolução da Assembleia Nacional antes da revisão constitucional. “A Assembleia Nacional manterá, por ora, a mesma configuração, dominada pela dupla de partidos Frente de Libertação Nacional (FLN) e União Nacional Democrática (RND). Em outras palavras, a aliança parlamentar ainda dispõe de um futuro promissor, pois ela terá não apenas o poder de votar a nova Constituição, mas também os projetos de lei que o governo pretende elaborar. De qualquer forma, a notícia do adiamento da dissolução do Parlamento fez a alegria de muitos deputados, contatados por nós, ontem. ‘Estamos aliviados com essa notícia’, disseram vários deputados.” (Reporters, 24 de fevereiro de 2020).

O povo quer o fim do sistema
Portanto, é a Assembleia Nacional submissa, rejeitada pela massa, que será levada a “debater” a reforma constitucional. O calendário anunciado por Tebboune é o seguinte: uma comissão de especialistas está preparando a reforma que, em seguida, será submetida a seiscentos representantes dos partidos políticos, sindicatos e associações.

Depois ela será submetida ao voto da Assembleia Nacional para finalmente ser levada a referendo popular. Ou seja, é a negação daquilo que o povo exige quando diz que o regime deve cair fora e que uma nova república deve ser instaurada pelo povo e para o povo.

Essa continuidade do regime se expressa naquilo que é o verdadeiro conteúdo da política atual do governo, a saber, as “reformas” econômicas, porque o único apoio desse regime é o FMI e as grandes potências que querem ver o fim da revolução na Argélia.

Uma delegação do Fundo Monetário Internacional, presente no país em 24 de fevereiro, enfatizou, após ter se encontrado com as autoridades argelinas “uma vontade real de mudança da situação da economia nacional”. A delegação acrescentou que “as conversações e os intercâmbios com os membros do governo argelino se concentraram nas novas orientações econômicas e nas reformas propostas que podem melhorar as potencialidades da economia argelina”.

De imediato, uma série de medidas vai jogar centenas de milhares de trabalhadores no desemprego. E o conjunto da população é atingida pelo alta dos preços, como, por exemplo, das frutas e legumes, que tiveram aumento de respectivamente 6% e 1,2%. De acordo com dados oficiais, a taxa de inflação é de 1,9%.

A manutenção do regime, sua maquiagem, sustentada pelo FMI e pelas grandes potências para implementar as contrarreformas destrutivas da economia argelina, é incompatível com a mobilização revolucionária do povo argelino, que quer ver o fim do sistema e a satisfação de todas as suas reivindicações econômicas e sociais, incluindo o controle da economia pelo povo e a ruptura dos laços de subordinação aos monopólios e o FMI.

Lucien Gauthier

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