Rio: sete meses da intervenção militar

Temer se diz “satisfeitíssimo” com os dados da intervenção militar no RJ. Pezão e os generais fazem coro. Todos os que vivem no RJ sabem que não há nada a se comemorar. A política do golpe só trouxe desalento e mortes: a taxa de desemprego no estado é de 15%, a violência recrudesceu com a militarização da segurança pública.

Cecília Oliveira, do Laboratório de Dados Sobre a Violência Armada Fogo Cruzado, mostrou indignação com a fala de Temer: “O número de casos de mortes decorrentes de ações policiais é o maior desde 2008 e o número de roubos de rua é o maior desde 2006. Sim, o roubo de carros e cargas dimi­nuiu, e o que isso quer dizer? Que os carros estão salvos e as pessoas estão morrendo? Qual o valor da vida para ele?” (Estadão, 30 de agosto).

Os números indicam o tamanho da barbárie. Segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, de fevereiro a julho de 2018, foram registrados 2565 tiroteios, 99571 roubos e 736 pessoas foram mortas pela polícia, sem contar os desaparecidos.

A intervenção militar foi decretada por Temer em 16 de fevereiro, depois do carnaval do Rio, em que os foliões escan­cararam a catástrofe nacional da política dos golpistas e do governo não conseguir aprovar a Reforma da Previdência.

A execução de Marielle, que chocou o país e o mundo, assim como todos os mortos do RJ sob intervenção – os cinco jovens de Maricá, Marcus Vinícius e centenas de outros que não sabemos os nomes – segue sem esclarecimento e punição.

Tiroteios, execuções, desaparecimentos…

Convivemos diariamente com a Linha Vermelha, a Avenida Brasil, a Grajaú-Jacarepaguá fechadas por conta de tiroteios.

Moradores relatam abusos come­tidos pelas forças de intervenção e a maior parte das vítimas são pobres, negros e jovens. Mães tem medo de mandar crianças para a escola e no caminho serem baleadas.

Em agosto, vimos a triste cena de familiares desesperados procurarem pelos corpos de parentes na mata do Complexo da Penha, depois de operações das Forças Armadas nas favelas da Penha, Maré e Alemão. Os moradores dizem que houve um banho de sangue e os militares não permitiam o acesso à mata.

Segundo relatos, no morro do Ale­mão blindados e tanques fecham o acesso às ruas e às escolas, inibindo as revistas são abusivas e mulheres e crianças são revistadas por militares homens, jovens são espancados e levados à força de dentro de casa, sem nenhuma explicação. A rotina de tiroteios permanece, inclusive em áreas com Unidades de Polícia Paci­ficadora (UPPs).

O sistema de transporte inaugurado nas Olimpíadas – o BRT, sistema de corredores exclusivos com ônibus, com 8,6 milhões de usuários –está abandonado e degradado. O BRT da zona oeste tem trecho inteiro de um corredor fechado, que ligava o bairro de Campo Grande e Santa Cruz, por causa de tiroteios, estações depreda­das pistas esburacadas e veículos lo­tados. Segundo relato de moradores, milicianos fazem a “segurança” de al­gumas estações para impedir o calote.

Nas campanhas eleitorais para o go­verno do Estado, é chocante o silêncio dos candidatos sobre a intervenção. O PT corretamente se manifestou, com voto da bancada e notas da executiva estadual contra a intervenção. Mas, sem uma ação efetiva, deixa o povo que quer o fim da intervenção sem ter em que se apoiar. Neste momento de campanha eleitoral, o partido deveria levantar alto e bom som a exigência do fim da intervenção.

Francine Iegelski

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