Em 03 de janeiro, um bombardeio dos EUA matou o número dois do regime iraniano, o major-general Ghassem Suleimani, responsável das operações militares no exterior.
Suleimani estava no aeroporto de Bagdá para assistir ao funeral de 31 soldados iranianos mortos pelo exército estadunidense na fronteira sírio-iraquiana.
Notemos que os próprios Estados Unidos concordavam que Suleimani, assim como o general iraquiano morto junto com ele, é o “verdadeiro vencedor do Estado Islâmico”. Mas Mike Pompeo, secretário de Estado, chegou a acusar o general iraniano de estar ligado aos ataques de 11 de setembro contra o World Trade Center, quando se provou de maneira indiscutível que os atacantes estavam ligados à Arábia Saudita e membros da Al-Qaeda.
Nada disso impediu que Bolsonaro, lambe-botas dos EUA, se solidarizasse escandalosamente com Trump!
Como, aliás, outros governantes ocidentais mais “discretos”, alguns que pedem “prudencia” ao Irã .
Após quase 30 anos de guerras dos EUA no Oriente Médio, o Iraque foi devastado (a reconstrução deu lucro às empresas americanas), a Síria foi destruída e o Iémen massacrado por bombas dos EUA compradas pela Arábia Saudita. É preciso que o Irã “tenha prudência”? Quem é o responsável pela instabilidade regional se não o imperialismo dos EUA que traz a guerra sem fim, acompanhado de lacaios?
Os dirigentes iranianos chamam à vingança ameaçando as bases dos EUA. Anularam seu compromisso na questão do enriquecimento de urânio, uma nova fonte de conflitos.
Polícia do mundo
Comentaristas dizem que Trump é incontrolável. Mas o que dizer da política do predecessor Obama, o presidente dos “danos colaterais”, como os bombardeios que causaram a morte de milhares de civis no Afeganistão? As características de Trump não devem esconder o fato do presidente dos EUA expressar na sua política, a crise profunda na qual se encontra o imperialismo. Ele é obrigado a fazer o papel de polícia do mundo porque seus aliados são incapazes, a não ser como ajudantes.
O Oriente Médio concentra 50% da produção mundial de petróleo. Após falar da sua vontade de deixar a Síria, Trump fez retornar as tropas para controlar as principais jazidas de petróleo da região. Como o imperialismo, então, deixaria o Iraque? Acontece que ele é igualmente tensionado por sua própria política de “América em primeiro lugar”, sustentada por seu eleitorado. Esses dois aspectos de sua política são contraditórios.
E o movimento popular?
Nosso correspondente em Bagdá indica que “o ataque contra a embaixada dos EUA feito por brigadas do Hezbollah, grupo armado sustentado pelo Irã, foi uma resposta direta aos ataques americanos ao grupo na província de Anbar”.
Os iraquianos estão divididos. “De um lado, pessoas perplexas com o objetivo da operação, de outro, pessoas enraivecidas de ver iraquianos atingidos. Mas todos concordam que o Iraque não deve se tornar um lugar para as guerras entre Irã e EUA”.
Ele acrescenta: “Sabemos muito bem que tudo pode virar rapidamente o horror de que acabamos de sair. O povo iraquiano se rebela há três meses para dispor de si próprio, das riquezas da nação, quer dizer, contra a ingerência externa e contra o confessionalismo”.
Após a agressão americana, os principais dirigentes xiitas concordaram em que o parlamento vote a moção exigindo a retirada das tropas dos EUA. É uma profunda reivindicação popular, submetida a ratificação do governo, em crise desde a saída do primeiro ministro confrontado com a revolta.
No momento, as milícias xiitas, mas também os sunitas que não aceitam a ingerência americana, decidiram se rearmar. O movimento popular iraquiano com a sua reivindicação de “fora todos” poderia ser o primeiro a sofrer as consequências deste movimento militar.
(com notas de Informações Operárias, edição no. 596 , França)