Sri Lanka: “é a revolução!”

“É uma situação revolucionária”; “Revolução em curso no Sri Lanka”; “Revolta massiva” – Estes são os termos usados pela imprensa internacional para descrever os recentes acontecimentos na capital do país, Colombo.

Reunindo-se durante meses na Praça Galle Face, os trabalhadores (especialmente urbanos), os sindicalistas e os militantes partidários têm contribuído para manter este movimento que exige:

– a saída imediata dos corruptos – incluindo o presidente Gotabaya Rajapaksa e o Primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe – que organizaram o massacre dos Tamiles;

– o estabelecimento de um sistema de distribuição de bens de primeira necessidade, o congelamento dos preços, a suspensão do pagamento da Dívida externa;

– o estabelecimento de investigações contra a corrupção e a fuga de capitais e bens pertencentes ao país, e, portanto, ao povo.

Em 9 de Julho, enquanto o Regime de Rajapaksa só tem conseguido aguentar-se através da repressão policial, centenas de milhares de trabalhadores quebraram o último dique que os separava do Poder. Eles entraram no recinto do secretariado da Presidência, em Colombo.

Minutos antes, o Presidente da República tinha fugido do Palácio presidencial, tendo o Presidente do Parlamento anunciado que ele se demitiria a 13 de Julho. Não é claro se isto se verificará, o que acentua a raiva dos manifestantes.

Cenas de alegria atravessaram as redes sociais: há manifestantes deitados na cama de Gotabaya, outros a nadar na sua piscina ou a utilizar o seu ginásio e os jardins luxuosos, mas é certamente o vídeo com manifestantes no Palácio presidencial, em torno de uma mesa de reuniões – simulando discussões entre o Presidente do país e o Fundo Monetário Internacional – que foi o mais marcante. No final, o representante do FMI diz “Eu amo este país”, e o Presidente entrega-lhe as chaves do país. Isto diz tudo.

O povo do Sri Lanka existe há muitos anos. Ainda a 7 de Julho, o Governador do Banco Central do Sri Lanka, Nandalal Weerasinghe, tinha aumentado os juros dos empréstimos, numa tentativa para conter os preços recorde que têm alimentado a inflação mais alta da Ásia. Entretanto, o Primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe diz que as conversações com o FMI são complicadas, porque o país está falido. Desde há meses que o povo está sofrendo e que este governo de corruptos se mantém, vendendo a potências estrangeiras o país, as terras e as infra-estruturas.

Desde 9 de Julho, o Sri Lanka tem feito tremer a ordem mundial imposta pelos imperialistas. Na capital Colombo – como noutras cidades do país, tal como Jaffna – “muitos políticos vêem o chão desmoronar-se sob os seus pés”. Avaliando a dimensão do terramoto, o Departamento de Estado dos EUA “apela ao Parlamento do Sri Lanka para abordar a situação com um firme compromisso de melhoria do país”.

De fato, o Parlamento continua a ser o último dique para preservar os interesses imperialistas. Percebendo que a data de 13 de Julho é muito longínqua, “o Presidente do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywardana, informou Rajapaksa sobre as decisões tomadas numa reunião de emergência de líderes partidários, a 9 de Julho, convocada em resposta aos protestos de massa em Colombo. A carta solicitava a demissão imediata de Rajapaksa e de Wickremesinghe, e previa a convocação do Parlamento no prazo de sete dias para nomear um Presidente interino.”

A determinação do povo do Sri Lanka permanece inabalável, e a vontade das castas no Poder de aliviar a pressão, bem como de esvaziar o Palácio presidencial das centenas de manifestantes que o ocupam, parece não ter qualquer influência. Tanto mais que o Presidente em fuga nunca confirmou que iria demitir-se em 13 de Julho. O Exército permanece cauteloso e anunciou, em 10 de Julho, que não iria intervir.

Como afirma o financeiro Lionel Zinsou, ex-Primeiro-ministro do Benim e conselheiro de vários governos de países emergentes: “O que está acontecendo no Sri Lanka pode repetir-se. Esta revolução popular preocupa-nos e não nos deve deixar indiferentes. (…) O que a crise do Sri Lanka mostra é que a bússola dos países emergentes está atualmente enlouquecida. Com todos os riscos que isso implica” (jornal diário suíço).

Crónica de Dharesh Hake publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 714, de 13 de Julho de 2022, do Partido Operário Independente de França.

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