Enquanto Bolsonaro sobe o tom e ameaça o processo eleitoral, com o auxílio de militares, “desafiando” o judiciário, todos juntos, Bolsonaro, juízes, militares e até a oposição jantam para transmitir ares de normalidade institucional.
O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) reuniu políticos de diferentes partidos, incluindo o líder do PT na câmara, Reginaldo Lopes (MG), além de deputado do PCdoB, militares e ministros do governo, do Supremo Tribunal Federal (STF), o Procurador-geral da República, o próprio Bolsonaro e seu ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, cotado para ser seu candidato a vice, num jantar na sua residência oficial na noite de quarta-feira, 22 de junho.
Com a participação dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – o jantar foi organizado em homenagem aos 20 anos de Gilmar Mendes como juiz da Corte.
Neste regabofe, não poderia faltar as orações do Pastor e Ministro terrivelmente evangélico do STF, André Mendonça.
Enquanto o regabofe corria solto na residência do Presidente da Câmara dos Deputados a fome, miséria e o desemprego corroem e detonam o país do Oiapoque ao Chuí, e o programa de suspensão de contratos e corte de jornada e salário atinge principalmente os trabalhadores que recebem até dois salários mínimos, R$ 2.200.
No momento que os convidados saboreavam bons vinhos franceses, 33 milhões de brasileiros estão passando fome de acordo com a Rede Pensan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar), com 23 milhões (10,8% da população) vivendo com R$ 210 ao mês, menos de R$ 7 ao dia. São 6 em cada 10 brasileiros vivendo com algum grau de insegurança alimentar.
Alardeou-se na imprensa que o jantar preparado para 40 convidados e bancado com o dinheiro dos trabalhadores, teve como objetivo aparar arestas entre os representantes das instituições da República. Só se for para um entendimento que leve a mais maldade contra o povo trabalhador.
Afinal, na sequência do jantar as manobras das instituições contra o povo, Lula e o PT, se multiplicaram.
Só na última semana, Pacheco “abriu” a CPI para apurar o roubo descarado de pastores no MEC, mas manobra para que as investigações ocorram depois das eleições. O Senado tratou de votar a chamada “PEC” do desespero, que ignora as amarras da lei eleitoral, a famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal e o Teto de Gastos, criações deste Congresso e dos golpistas deste governo e do anterior, para liberar o vale tudo nas eleições.
A comissão de segurança da câmara decidiu convocar para depor Marcos Valério, abjeto personagem da Ação Penal 470, onde se estabeleceu a farsa do “mensalão”. Valério agora é convocado para dar sustentação a outras duas farsas: um suposto vínculo do PT com o PCC e a enésima tentativa de acusar o PT de envolvimento no assassinato do prefeito petista, Celso Daniel.
Sabe-se lá o que foi combinado neste jantar. Sabe-se lá o que Bolsonaro e Moraes conversaram a portas fechadas. Mas uma coisa é certa: dessa gente nunca vem nada de bom.
Parafraseando Douglas Belchior, durante o ato Constituinte com Lula, no último dia 2 de julho, o Brasil caminha com uma bola amarrada nos pés.
O que não dá pra entender é o que o líder do PT fazia nesta festinha. Será que ainda não está claro que apesar da troca de farpas, as instituições estão todas unidas contra o povo brasileiro?
Osvaldo Martinez D’Andrade