Nos próximos 2 meses, pelo menos 100 milhões de vacinas excedentes nos países ricos podem vencer e ir para a lata do lixo.
Enquanto isso, no continente africano, apenas 3,5% da população recebeu duas doses da vacina. Em todo o continente, só o Marrocos tem pelo menos 40% da população imunizada com duas doses, seguido por Zimbabwe (14,9%), África do Sul (14,2%), Ruanda (11,4%) e o Lesoto (11,2%). Todos os demais 50 países do continente estão abaixo dos 10%. A maioria deles não atinge sequer 2% de vacinação, incluindo a Nigéria e a Etiópia, os dois países mais populosos do continente.
Enquanto Biden lidera uma “cúpula das vacinas” recheada de demagogia na ONU e fala em doar 500 milhões de vacinas da Pfizer aos países pobres (não só da África), a realidade se impõe e mostra que a complexidade do problema vai muito além da doação de doses. Augusto Paulo Silva, ex vice ministro da saúde de Guiné-Bissau em entrevista à Fiocruz explica que os países enfrentam “problemas estruturais que vêm lá de trás e que foram exacerbados pela pandemia. É por isso que a vacinação na África é muito lenta, não só por falta de imunizantes, mas por toda a cadeia de infraestrutura e logística”, se referindo por exemplo a câmaras frias e geradores.
Silva ainda explica que “o Banco Mundial está fornecendo dinheiro aos países para adquirirem essas vacinas. Mas a maioria está endividada, tem tetos de gastos já limitados pelo Banco Mundial por causa dos programas de ajuste estruturais.”
Como se vê, o pior vírus a ser eliminado é o capitalismo.
Luã Cupolillo