O país ficou chocado com o ataque à creche de Blumenau. E não era para menos. O assassinato a sangue frio de quatro crianças foi um ato de brutalidade, agravado pelo fato de que não é um raio em céu azul.
Desde 2002, o Brasil registrou 22 ataques deste tipo em instituições de ensino. O detalhe é que desses ataques pelo menos 14 ocorreram de 2017 até hoje, sendo que dez aconteceram nos últimos oito meses.
A relação entre esses ataques e a criação de uma cultura de fácil acesso a armas de fogo, da discriminação e do ódio, é evidente.
O governo Bolsonaro, principal patrocinador dessa política, tem responsabilidade direta. Promoveu discursos discriminatórios, espalhou mentiras em escala industrial e adotou medidas de incentivo à violência. Mas a questão vai além. É um sintoma das condições de degradação que vivemos.
Não é coincidência o aumento dos trabalhadores libertados de situação análoga à escravidão, o cenário de fome, desemprego, desindustrialização, a falta de investimento público no país, o Novo Ensino Médio, tudo isso ao mesmo tempo em que cresce este tipo de violência nas escolas.
Onda de Pânico
Ao ataque de São Paulo e depois o de Blumenau, seguiu-se uma onda de preocupação e medo nas escolas e comunidades. Novos ataques foram contidos, como em Manaus, onde um estudante tentou esfaquear três pessoas. Novas ameaças foram feitas às centenas, o que causou uma onda de pânico na comunidade escolar.
A extrema direita se aproveita da situação para ampliar a sua defesa de militarização das escolas. Jovens que estão começando a se mobilizar contra o Novo Ensino Médio se sentem intimidados. Coincidência?
É óbvio que, numa situação emergencial, onde ameaças são feitas, reais ou imaginárias, medidas de proteção podem ser tomadas. Um botão para acionar a polícia em caso de emergência, por exemplo, pode ser útil. Também ajuda agir com inteligência para desbaratar potenciais articuladores dos ataques, escondidos no anonimato das redes sociais.
Mas a questão não será solucionada com militarização. Aliás, a militarização no Brasil é uma conhecida fonte de violência, não o contrário.
Imediatamente, é preciso medidas, mas de maneira adequada nas escolas. A presença de porteiros, por exemplo, quase inexistentes, deveria ser obrigatória. O acolhimento também precisa estar na ordem do dia. A escola precisa de estrutura, merenda adequada e de atendimento psicológico, assim como assistentes sociais para alunos, pais e trabalhadores.
Isso, inclusive, já está previsto em lei, mas, praticamente, não é cumprido em nenhum lugar.
Recuperar os Centros de atenção Psicossociais (CAPS), desmontados pelo governo anterior, também é importante. São todas medidas que exigem investimentos pelos governos.
Serão compatíveis com qualquer “arcabouço fiscal”, Lei de Responsabilidade Fiscal ou teto de gastos?
Juca Gonçalves