Há um ano, o governo recém empossado de Lula visitava a Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Ao constatar os altos índices de desnutrição, doenças oportunistas da fome – como pneumonia e malária – e morte de crianças, o governo decretou estado de emergência de saúde pública. Apesar da dificuldade em encontrar números precisos do período, já se sabe que pelo menos 692 crianças yanomamis morreram de 2019 a 2022. Passado um ano dessa iniciativa, no entanto, como estão os indígenas yanomamis?
A verdade é que a situação da região melhorou muito pouco. Os hospitais de Boa Vista, capital do estado, seguem superlotados com crianças desnutridas e doentes, ainda que, segundo os profissionais da saúde que trabalham no local, de forma menos grave. A morte de crianças yanomami permanece em números inaceitáveis. Das 308 mortes de yanomamis registrados em 2023, pelo menos metade eram crianças de até 4 anos de idade. 29 pessoas perderam a vida por desnutrição.
A crise causada aos yanomamis tem raiz no garimpo ilegal. Ao ocupar terra indígena, os garimpeiros desmatam, poluem rios, espantam caça e espalham doenças, além de atacar diretamente os povos indígenas nas disputas de território e envolvê-los no confronto armado com as forças de segurança. As iniciativas do governo federal – insuficientes, mas existentes – de combater o garimpo ilegal vão na contramão do governo estadual de Roraima, cujo governador bolsonarista trabalha incansavelmente para facilitar a vida daqueles que chama de “empreendedores da mineração”, aprovando projetos de lei que dificultam o trabalho dos órgãos fiscalizadores. E esbarram numa espécie de morosidade complacente – para dizer o mínimo – das Forças Armadas, que atuam de maneira muito tímida, inclusive em territórios onde há bases militares. Em fevereiro passado, o Ministro da Defesa, José Múcio, chegou a dizer que havia uma preocupação de não “prejudicar inocentes” e que há garimpeiros que “trabalham pelo seu sustento”.
Perante a esse cenário calamitoso, os ministros do Meio Ambiente, dos Direitos Humanos e dos Povos Originários, que voltaram a visitar o estado na semana passada, anunciaram uma série de medidas que busca intensificar o combate ao garimpo e a promoção de saúde yanomami. Lula anunciou investimento de 1,2 bi, e os ministros prometem presença das forças armadas para distribuição de cestas básicas e da Polícia Federal na região, ampliação dos postos de saúde em território indígena e promoção da autonomia alimentar dos locais. São medidas importantes, que podem ter impacto positivo na vida dos yanomamis se forem corretamente implementadas.
Paula Ferreira
Yanomamis ainda sob ataque
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