133 anos depois, abolição segue inacabada

A escravidão negra no Brasil durou do fim da década de 1530 até 1888, mais de três séculos de exploração do povo negro trazido à força nos navios negreiros da África.

Para o movimento negro, o dia 13 de maio não é de comemoração, mas sim de luta contra o racismo e de esclarecimento que a Lei Áurea ainda é um processo inacabado. Pois se ela acabou com a escravidão formal, as famílias negras não tiveram acesso à terra e ao trabalho, condições essenciais para uma nova vida. Os escravos libertos sequer tiveram acesso à saúde, à educação e à moradia, continuaram com uma condição de vida sub-humana empurrados para as periferias das cidades.

O trabalho que os negros exerciam na condição de escravo, depois da abolição, passou a ser remunerado e exercido por trabalhadores brancos, em grande parte chegados ao Brasil como imigrantes.

Quando os negros foram sequestrados da África, só não tiraram deles uma coisa, o instinto de sobrevivência e o desejo de liberdade.

O negro durante os mais de 300 anos de escravidão, vendido ou alugado, trabalhando e vivendo em condições sub-humanas, não sobrevivia, em média a mais de 30 anos de idade.

Nessas condições de existência, tudo que vinha do povo africano era desqualificado. Suas crenças religiosas, sua cultura, suas características físicas. Para se impor à população negra a condição de escravo, além de usar a força da arma, o chicote e os castigos em geral, também se construiu uma cultura nos negros de autonegação, para diminuir as chances de reação contra o regime escravista.

Quando os negros criaram a capoeira, a estrutura policial das elites da colônia ficou encarregada de impedir a prática daquela modalidade. Os negros que eram pegos praticando capoeira eram condenados a levar 300 chicotadas. Uma maneira de reprimir qualquer forma de autodefesa, e isso virar uma ameaça aos proprietários de escravos e ao regime vigente. No pós-abolição a lei da vadiagem na década de 1940 foi utilizada para perseguir e prender àqueles que se dedicavam ao samba, por exemplo.

Heranças da escravidão
Depois de 133 anos da abolição do trabalho escravo, o povo negro no Brasil sofre as consequências da exploração a que esteve submetido durante três séculos. Situação que só se agrava com as políticas do genocida Bolsonaro.

Os 54% de negros que compõem a população brasileira, estão na parte de baixo da pirâmide em termos de emprego e condições de vida. Como os escravos libertos não tiveram habitação, foram empurrados para construir favelas, para os guetos e periferias, o que permanece até hoje, muitas vezes sem condições básicas de existência, água, esgoto, saúde, transporte, acesso à cultura e salários dignos.

Na pandemia da Covid-19 os homens negros são os que mais morrem segundo os dados levantados pela ONG Instituto Polis. Enquanto entre os brancos são 157 mortes para cada 100 mil, entre os negros esse número sobe para 250. Entre as mulheres não é diferente, enquanto as brancas tiveram 85 mortes para cada 100 mil, entre as negras esse número subia para 157, quase o dobro. A cada 10 pessoas que apresentam sintomas, 7 são negras.

A violência também atinge mais os negros, tratados em geral como suspeitos. A cada 100 pessoas assassinadas, 71 são de origem negra. Nos presídios a fotografia é a mesma. A chacina no Jacarezinho (RJ) que deixou 28 mortes em uma ação brutal da polícia civil, descumprindo a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que restringia as operações policiais no RJ enquanto durar a pandemia da covid-19, é uma expressão da política de genocídio do povo negro em nosso país. É preciso que os responsáveis pela chacina sejam punidos.

Joelson Souza

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas