O segundo boletim do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), de 21 de maio (98,78% de atas apuradas), confere a Nicolás Maduro, candidato da Frente Ampla da Pátria (PSUV e outros partidos) 6.190.612 votos (68%), enquanto Henri Falcón acumula 1.917.036 votos (21%), Javier Bertucci 988.761 e Reinaldo Quijada 36.246. A participação foi de 9.132.655 eleitores (46,2% do total).
Maduro foi reeleito para um novo mandato (2019-25) derrotando os candidatos de oposição por ampla margem, com alta abstenção. Expressou-se um apoio majoritário ao chavismo que derrotou as duas vertentes da oposição: a que participou do pleito, propondo dolarização da economia, e a que chamou a abstenção, pedindo intervenção estrangeira.
Nesse sentido, foram derrotados também o imperialismo dos Estados Unidos e seus aliados do Grupo de Lima (governos direitistas da região) e da União Europeia, que dizem não reconhecer os resultados e que vão aplicar sanções ainda mais duras à Venezuela.
Ao mesmo tempo, esse novo triunfo do chavismo está marcado por dificuldades e contradições. A abstenção de 54% tem um significado. Ela se dá num contexto de intensa luta de classes alimentada pela ingerência imperialista e ameaça de intervenção militar, logo não pode ser analisada como as altas abstenções que marcaram também as eleições na Colômbia, Chile ou Peru.
Mas, é inegável que continua a queda da votação chavista: Hugo Chávez obteve 8.191.132 votos em 2012 e o próprio Maduro teve 7.505.338 em 2013. Há que se considerar o quadro adverso de sabotagem econômica, hiperinflação induzida, bloqueio e sanções econômicas, por isso mesmo dizemos que é uma vitória da resistência do povo trabalhador. Mas, se o resultado não retira legitimidade de Maduro, certamente o coloca numa situação difícil no plano internacional, pois a baixa participação será utilizada para questionar o seu mandato.
Nova ofensiva de Trump já começou
Mais de uma dezena de países não reconheceram os resultados eleitorais de 20 de maio: Panamá e Chile foram os primeiros, seguidos pelo Grupo de Lima (14 países, incluindo Brasil e Argentina) que num comunicado acordaram reduzir suas relações diplomáticas com a Venezuela. O governo de Rajoy da Espanha disse estudar “medidas oportunas” nos marcos da União Europeia. Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, ao não reconhecer os resultados, disse que seu país tomará medidas para “restabelecer a democracia na Venezuela”, enquanto o presidente Trump aprovava uma ordem executiva que limita operações com títulos da dívida pública do país.
No plano militar, o plano para “derrotar a ditadura venezuelana”, do almirante Kurt Tidd, chefe do Comando Sul segue de pé. Bancos dos EUA bloquearam sete milhões de dólares enviados pela Venezuela para pagar medicamentos para hemodiálise e a multinacional Kellogg’s retirou-se do país, o que levou o governo Maduro a decretar que os trabalhadores tomassem as suas fábricas.
Ao receber seu diploma de candidato vencedor do CNE, Maduro ordenou a expulsão do encarregado de negócios dos EUA e seu assessor por “ingerência insolente no processo eleitoral”, apelando à solidariedade internacional dos trabalhadores, movimentos populares e democratas do mundo.
A principal promessa eleitoral de Maduro foi a de resolver a situação econômica. No ato do CNE, ele voltou ao tema, conclamando todos os setores a uma discussão ampla.
Maduro conta com o poder político em mãos do chavismo, com a Assembleia Constituinte e está diante de uma oposição dividida e enfraquecida. Logo, não há desculpas para que seu governo deixe de adotar medidas que o povo está clamando diante da calamidade na economia.
Por um Plano de Emergência
Para o Coletivo Trabalho e Juventude, o triunfo político do povo trabalhador em 20 de maio permite passar para a ofensiva no confronto com empresários e especuladores que desorganizam a produção e a distribuição de bens, colocando em marcha um Plano nacional de emergência apoiado na mobilização de trabalhadores do campo e da cidade.
Tal plano deve priorizar a produção de alimentos. Para tanto é preciso retomar o processo de redistribuição de terras, recuperar a produção agrícola e financiá-la; atacar os bancos privados que manejam o crédito sem maior controle; sanear as empresas públicas do setor agrícola, substituindo dirigentes e métodos improdutivos; implantar um monopólio estatal na compra de alimentos que controle os preços e melhore a rede de distribuição.
A melhora do sistema nacional de saúde pública, tanto na recuperação de sua infraestrutura, quanto na oferta de medicamentos, deve incluir forte recuperação salarial para os trabalhadores do setor. Da mesma forma para o sistema educativo nacional. Os serviços públicos de transporte, água, eletricidade, telefonia e internet, devem passar por avaliação rigorosa, com participação popular e dos trabalhadores.
Hoje os patrões, a pretexto da crise social, agem de forma coordenada no desrespeito às leis trabalhistas (LOTT), o que lhes permite agudizar a guerra econômica e minar as bases do Estado, ao mesmo tempo que aumentar suas margens de lucro. Daí a ação necessária e efetiva por parte do governo na aplicação da LOTT, como pedem os sindicatos.
A especulação com a moeda, o boicote financeiro, a lavagem de dólares pelos bancos, exigem mais do que nunca o controle do sistema bancário pelo Estado, além de uma reforma tributária que faça o grande capital pagar mais impostos.
Para implementar medidas desse tipo, além do combate à corrupção na esfera pública, se exige a participação organizada do povo trabalhador, através de suas organizações sindicais, populares e políticas, o que é o grande desafio colocado para o período pós-eleitoral que se inicia.
Alberto Salcedo,
Maracaibo 22 de maio
EUA OPERA COM GOVERNO GOLPISTA
O governo brasileiro já havia assinado o comunicado do Grupo de Lima. Depois de reunião em Brasília (22/05) com o secretário de Estado dos EUA, John Sullivan, o Ministério das Relações Exteriores assinou novo comunicado, com os EUA reafirmando não reconhecer “legitimidade e credibilidade” na reeleição de Maduro. Além do ataque à soberania da Venezuela, Sullivan está no Brasil para articular um Foro Permanente de Segurança a ser coordenado por EUA e Brasil para “troca de informações entre agências de controle de inteligência para combater o narcotráfico, o tráfico de armas, os delitos cibernéticos, a lavagem de dinheiro, os crimes financeiros e o terrorismo”!!! (Estadão 23/05).