Greves continuam a pipocar na Itália

Em 15 de março as centrais sindicais italianas CGIL, CISL e UIL assinaram acordo com o governo e os representantes patronais (reunidos na entidade Confindustria) prevendo que “o prosseguimento das atividades produtivas pode ocorrer se houver condições que assegurem aos trabalhadores níveis de proteção adequados”.

“Adequados”? E quem julga isso, senão os próprios patrões? E além da saúde dos trabalhadores há o conjunto da comunidade porque continuar a se deslocar para ir ao trabalho aumenta o risco de contágio.

Assim, mesmo com toda crise sanitária os metalúrgicos do norte do país – região mais atingida pelo coronavirus – foram obrigados a organizar uma greve para preservar a saúde de seus filiados porque o decreto do governo que determinou o fechamento de empresas até 3 de abril permitiu o funcionamento de diversos setores que nada têm de essenciais.

Em outra região, na Liguria, a revolta explodiu neste final de março em todos os setores, tanto públicos como privados: saúde, bancos, seguradoras, organizações de crédito, tribunais, canteiro de obras da nova ponte Morandi – em Gênova. Com seus sindicatos, os trabalhadores exigiram a implementação de medidas de saneamento e proteção contra a infecção.

E as greves continuaram a pipocar nas atividades não essenciais que foram mantidas. Um exemplo é empresa Leonardo, na cidade de Spezia, cujo fechamento foi pedido pelo sindicato, mas negado pelo prefeito. A empresa, de nome Leonardo, é uma fábrica de armas! O mesmo ocorreu na Piaggio (fábrica de aviões) mantida aberta com aval da prefeitura.

Armamento, aviões, seriam produtos estritamente vitais neste período de emergência sanitária? Ou será uma produção vital para o capitalismo?

Empresas funcionando, vírus propagando
As lições da catástrofe que atingiu a Lombardia – onde situa-se Milão – não foram aprendidas por essa gente. Porque foram todas essas fábricas que continuaram funcionando, todos esses trabalhadores amontoados em locais de trabalho lotados, rapidamente ultra infectados, todos esses deslocamentos do trabalho para casa e vice-versa que permitiram a propagação explosiva do vírus para a população de toda a região

Ainda há muitas empresas abertas, muita gente trabalhando, muitos sem salário nem renda. É obrigação do governo intervir.

Revelou-se ineficaz o decreto presidencial que suspendeu a produção – e que ademais veio com atraso criminoso e só foi editado porque os sindicatos ameaçaram com a greve geral.

A Confindustria continua com sua atitude assassina: por um lado ela critica o decreto e, por outro, ela utiliza suas brechas para não parar a produção e continua a alimentar uma tragédia que prossegue um dia após o outro.

O número de mortos fala por si mesmo, os hospitais e os asilos para idosos já explodiram. São urgentes medidas que protejam e minimizem os riscos dos que continuam trabalhando.

Nos supermercados é preciso restringir ainda mais o acesso dos clientes e os horários de funcionamento, a começar pelo fechamento aos domingos, senão é impossível efetuar a desinfecção. E, sem isso, apenas as medidas de proteção individual são incapazes de impedir a contaminação.

E ainda há a difícil situação dos trabalhadores cujas fábricas pararam de funcionar e que estão recebendo parcialmente os salários ou auxílios, insuficientes.

Os sindicatos precisam manter a mobilização para exigir que o governo intervenha imediatamente para, de fato, suspender tudo o que não é fundamental, regulamentar as condições de trabalho nos setores essenciais, garantir os salários e a renda de todos. Caso contrário será necessária a greve geral!
Correspondente

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