“Outra política requer outras instituições” – Entrevista com Markus Sokol

O TRABALHO – No bojo da nova situação política no país, como você vê a abertura do PED?

MARKUS SOKOL – O PED é aquela coisa: decalcado das regras eleitorais do país que facilitam a manipulação e o poder econômico, visa mais carregar eleitores do que o debate entre os filiados, como ocorria antes, na eleição das direções nos encontros de delegados. Aliás, propusemos adiar o PED e realizar um Encontro Nacional extraordinário para debater a nova situação.

Mas nós também sabemos que ninguém pode ficar impassível após as manifestações de junho e o dia de luta dos trabalhadores de julho. Essa combinação imprevista é um alento na disputa. As velhas explicações das várias correntes que compõem a maioria da direção partidária, que passaram 10 anos desprezando as modestas conquistas arrancadas pelo povo trabalhador, tratadas como se fossem benesses da coalizão de governo que não paravam de aplaudir, esse esquema ruiu. O ritmo da história acelerou e antigas perguntas voltam com força, pedindo novas respostas.

 

O TRABALHO – Qual sua opinião sobre a ausência do PT no dia de luta das centrais sindicais em 11 de julho?

MARKUS SOKOL –  Até havia uma nota de apoio da Executiva Nacional, mas de fato, apesar do engajamento dos petistas na militância sindical e popular nas greves e atos, os parlamentares e dirigentes brilharam pela ausência, com honrosas exceções.

Por que? Alguns simplesmente perderam o hábito, um elemento da transfiguração em curso do partido em mera máquina eleitoral.

Mas ainda acho que o maior problema é político: há perplexidade face à nova situação aberta em junho, um medo de prejudicar o governo Dilma, como se a pauta dos trabalhadores – da jornada de 40h à reforma agrária e o combate a terceirização, por exemplo-, não estivesse na raiz da eleição do PT.

Assim, a paralisia do PT não ajuda, ao contrário, a superar dificuldades com o freio-de-mão puxado na CUT e nos sindicatos, que alertam muitos sindicalistas.

 

O TRABALHO – Como você resume as propostas de sua candidatura?

MARKUS SOKOL – Sou candidato para reerguer as bandeiras do PT.

Para o PT dizer claramente: “Dilma, pare as privatizações, concessões e desonerações”, por exemplo. Para o PT puxar a luta para acabar com o superávit fiscal primário herdado de FHC, de modo que o grosso do Orçamento se destine ao transporte, à saúde e à educação, aos serviços públicos para o povo.

Sei que tudo isso se choca com o tal “presidencialismo de coalizão”, e que para ir até o fim se requer não só outra política do governo, soberana, que não aceite a chantagem do “mercado” nem as injunções externas, como também se requer outras instituições de Estado.

Mas, justamente, não estamos todos vendo agora que é preciso uma reforma política, e que Temer e a cúpula do PMDB sabotam porque não querem fazer nada?

Razão a mais para romper com eles, e se apoiar na mobilização popular para arrancarmos, desde já, o plebiscito da Constituinte “especifica”, de que Dilma chegou a falar! Sim, porque uma Constituinte como essa, na atual inquietação nacional, permitiria discutir muita coisa com o povo: do financiamento público das campanhas, hoje controladas por 200 grandes empresas doadoras, até o fim do Senado oligárquico e anti-democrático, para abrir caminho às mais profundas aspirações sociais e nacionais, proteladas em 10 anos de “coalizão”.

 

O TRABALHO – Em novembro, o Diálogo Petista, do qual você faz parte, chamou a defesa do PT contra a Ação Penal 470. E hoje?

MARKUS SOKOL – A questão continua colocada, o processo não terminou. Nós propusemos fazer um ciclo de atos de aniversário dos 33 anos do PT, pondo a defesa do PT na agenda. Mas a cúpula partidária preferiu um ciclo de festejos dos 10 anos de governo da “coalizão”, explicando que ia tudo bem, 2014 já estava no bolso… até que explodiram as manifestações de junho, e se viu que não era bem assim. A tentativa da cúpula “virar a página”, como se disse, não deu certo. O partido não se defendeu para não se chocar com as instituições (STF, etc.) e se desgastar com a mídia e parte dos aliados. Mas o vacilo acabou contribuindo para, aos olhos de alguns setores jovens e populares, igualar o PT à média dos “políticos” tipo Cabral, Renan e outros que posam de oposição, todos desprezados nas ruas.

Agora que, por outros caminhos, se evidenciou a urgência da reforma a fundo do Estado, de cabo a rabo, com uma Constituinte, vem junto o questionamento do julgamento de exceção do STF, garantidor da continuidade das instituições desde a ditadura, que o PT, na verdade, nasceu para varrer. Afinal, estão aí, sob a benção do STF, a “lei de anistia”, a militarização das policias e o sistema eleitoral (caixa 2 etc.) corrupto até a medula. A AP 470, na verdade, condena o PT para tentar salvar o sistema, mas é esse sistema que uma Constituinte deve condenar e abolir!

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