COP26: consenso “em defesa do planeta”?

A Cúpula do Clima, iniciada em 30 de outubro em Glasgow (Reino Unido) após a reunião do G20 de Roma, escancara a mistificação da “economia verde”.

A grande mídia dedica horas e muita tinta ao desequilíbrio climático e ao aquecimento global, que ameaçam o planeta. Em tom dramático, se aponta o dedo acusador à ação do “homem” que destrói o meio ambiente.

Os dados científicos mostram que a temperatura média aumentou 1 grau desde a Revolução Industrial há dois séculos e que se aumentar mais 1,5 graus corre-se o risco de catástrofes climáticas que levarão à fome, doença e conflitos.
Mas, em paralelo a esse “consenso científico”, há o “consenso político” das multinacionais que se choca com os dados da ciência da forma a mais cínica possível.

Joe Biden se apresenta como “campeão do clima” na COP26, mas os EUA, ao lado da Rússia, Noruega e Reino Unido, segundo o “New York Times”, “aumentarão dramaticamente sua produção de petróleo, gás e carvão nas próximas décadas”.
A defesa da ciência não pode nos cegar diante do fato de que o imperialismo utiliza também cientistas em seu interesse. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) jamais dirá que é preciso estatizar certos setores econômicos, ou acabar com a exploração e as guerras, muito menos que o responsável é o capitalismo.

O que fazem o IPPC e a ONU é botar a culpa nas pessoas, que deveriam comer menos carne, pagar mais pela eletricidade e combustível, aceitar a perda de empregos “poluentes”, em nome da salvação do planeta.

O responsável é o capital
A evidência científica da crise climática deve levar à análise e à denúncia da mistificação que está em curso para buscar o apoio dos povos e o “consenso” das organizações dos trabalhadores para as “necessárias e dolorosas” transformações que o capital prepara: desmantelar grande parte das indústrias, acabar com centenas de milhares de empregos com direitos, etc.
Ao mesmo tempo, cada vez mais organizações e partidos, incluindo os que dizem representar os trabalhadores, se declaram “ecologistas” ou “ecossocialistas”. A ecologia é uma ciência, mas a “ecologia política” é uma ideologia cuja atitude geral é culpar os seres humanos pela crise climática e danos ambientais.

Ora, não são os indivíduos os responsáveis por essa situação, mas aqueles que tomaram as decisões que levaram a ela, a minoria capitalista que se beneficia da propriedade privada dos meios de produção. O responsável é o capital e não o ser humano.

Há muitas fábricas que poluem e existem meios técnicos para resolver isso. Mas eles exigiriam gastos que o capital não tem interesse em fazer, pois quer preservar seus lucros. Em concreto, não se pode aceitar nenhuma demissão com base numa suposta defesa do meio ambiente.

A luta em defesa do meio ambiente exige o combate contra o capital. Por isso, quando se ouve Biden, o FMI, a ONU defenderem a “transição energética”, não nos deixemos enganar. Eles utilizam essa questão com o objetivo de reorganizar a produção de ramos inteiros – como no caso do carro elétrico – com demissões em massa, para abrir novos mercados lucrativos para um sistema em crise.

Daí a intensa propaganda para criar um “consenso” que reúna governos, patrões, sindicatos, ONGs, políticos, por um “capitalismo verde”, “por uma redução socialmente aceitável do pessoal”, como diz Guy Rider da OIT. A este consenso há que se opor a independência das organizações da classe trabalhadora e a luta de classes.

Lauro Fagundes

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