20 de Novembro é dia de resistência

No ano passado, as vésperas do 20 de novembro, na cidade de Porto Alegre (RS), João Alberto Silveira Freitas, o Beto, foi espancado de forma brutal e covarde até sua morte no supermercado Carrefour. Com uma única justificativa: ele era negro! Além disso, 2020 foi um ano atravessado por grandes mobilizações das questões raciais em todo o mundo, como o caso de George Floyd nos EUA ou do menino Miguel aqui no Brasil. E em 2021 as consequências do racismo continuam impactando a vida da população negra em suas diversas facetas. E a retomada das ruas, destacando os atos nacionais no 13 de maio após a chacina do Jacarezinho, demonstra nossa disposição para a luta pelos nossos direitos e que temos muito caminho a trilhar ainda, pois os ataques de todos os lados não cessam.

Durante a pandemia do Covid-19 diversos estudos trouxeram à luz as consequências da situação que a população negra vive cotidianamente. Ela é mais afetada que a população branca, mesmo em bairros em que a maioria é branca. Pesquisas apresentadas no relatório final da CPI da Pandemia demonstram esses números e, para Jurema Werneck, especialista da Anistia Internacional ouvida pela CPI, a maior incidência de vítimas entre os negros é efeito da falta de assistência e reflete a desigualdade social no país.

Pandemia escancarou a desigualdade
Com a pandemia e o governo genocida veio agravamento da fome e diversas outras consequências para o povo. Em 2018 os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostravam que as famílias negras e lideradas apenas por mulheres eram as mais impactadas com o risco da insegurança alimentar. Naquele ano o Brasil já apresentava o pior nível de segurança alimentar desde 2004, e agora chegamos ao nível de ossos e carcaças de peixe sendo vendidos em mercados, famílias disputando as ossadas dos açougues. A pauperização de nosso povo só aumenta.

E um dentre os fatores que justifica esse impacto na população negra é a desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro, que já é histórica e se agravou com a crise que estamos vivendo. Segundo dados do IBGE e do Ministério da Economia os pretos e pardos, que representam mais da metade da população do país (56,8%), foram os mais prejudicados pelos efeitos da crise no mercado de trabalho, sobretudo os pretos. Os dados indicam que o desemprego aumentou mais entre os pretos (17%) do que entre os brancos (10%), que estão abaixo da média nacional (13%). O nível da ocupação entre os pretos ficou ainda menor que o dos brancos e a queda da taxa de ocupação entre os pretos foi mais intensa que entre os demais.

As milhares de vidas negras perdidas durante a pandemia (não apenas por conta do Covid-19) reascendem o debate sobre o papel da letalidade da polícia e a sua necessária desmilitarização. A maior preocupação das instituições em manter a chamada ordem social no lugar de defender o direito de uma vida digna, opera na linha do avanço do genocídio do povo negro. Sem contar que o número de subnotificações em casos de assassinatos de jovens negros ainda é algo que precisamos superar, como indicam os últimos anuários divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Nesse próximo 20 de Novembro, dia de resistência e luta, estaremos nas ruas com o Movimento Negro defendendo os direitos e, por isso, na luta por Fora Bolsonaro.

Joelson Souza

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas