Entrevistamos Rodrigo Amaral, metalúrgico da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) que tem participado das paralisações na Usina, em Volta Redonda, por reajuste salarial. A categoria rechaçou a proposta da empresa de 8% para quem ganha até R$ 3 mil e 5% para quem ganha acima de R$ 3mil e cobra uma postura combativa da diretoria do sindicato (Força Sindical).
O Trabalho – Como as mobilizações começaram e como chegou esse movimento no seu setor?
Rodrigo Amaral – Os trabalhadores estavam cansados com dois anos sem aumento. Na semana retrasada, um grupo se levantou e uniu outros trabalhadores no pátio da SOM (Pátio de Alimentação – onde ficam os relógios de ponto) e começamos a unir todos os trabalhadores que estavam com o mesmo sentimento de revolta.
OT – Conte-nos um pouco sobre o movimento.
RA – Há quem paralise mais do que quatro horas, há quem paralise menos. Na minha área, por exemplo, combinamos de parar quatro horas. Quando chegou a primeira proposta de negociação, negada pela categoria, voltamos ao trabalho normal. Agora virá uma nova proposta. Dependendo de como for, paramos de novo. Mas têm setores que estão parando quatro horas todo dia. Era para ser negociado primeiro a PLR. Tentaram antecipar o acordo coletivo para ver se o peão engole, mas não funcionou. Teve paralisação do mesmo jeito!
OT – Na 2ª semana de paralisações a CSN demitiu 10 trabalhadores, qual foi o impacto?
RA – Teve impacto sim. O peão tem medo de perder o emprego. A mobilização esfriou. Por ver isso, a CSN está enrolando para mandar a nova proposta, esperando a temperatura abaixar. Antes, você tinha três, quatro mil trabalhadores parados. Agora tem 100. Mas dependendo da proposta que vier esses 100 podem virar mil, dois mil muito rápido. Há receio, mas estamos revoltados. No meu setor, por exemplo, nos organizamos para que ninguém fale sozinho, que ninguém pare sozinho, para não ter demissão. Tanto que, no meu setor, ninguém foi mandado embora e não tem nome na mesa de diretores. Mas a perseguição está bem forte. Foram cortados muitos benefícios nesses últimos anos. Então temos a nossa revolta, mas também temos o nosso receio.
OT – Uma marcha de mais de três mil metalúrgicos, foi da Usina à sede do sindicato, com qual objetivo?
RA – Todos os acordos que a CSN fecha, com apoio do sindicato, são ruins para os trabalhadores. A gente sabe que os acordos passam pela mão do sindicato e ele é omisso e vendido, é o que achamos e não tem representado a gente. Essa marcha foi para mostrar a eles que nós estamos cientes do que estão fazendo! Eles deviam representar os trabalhadores. A marcha parou na frente do sindicato para mostrar que se a gente quiser, a gente tira eles. E eu acho que vai acontecer isso! Não vão permanecer até ano que vem.
OT – Como acha que será o 1° de maio, dia da data base da categoria?
RA – Eu acho que vai ser conturbado. Acho que não vai ser uma coisa muito simples não. Tem muito peão revoltado, muito trabalhador revoltado, ao mesmo tempo em que tem muita gente nova na empresa que estava precisando de trabalho. Acho que vai ter aquele embate dos que vão querer parar, se a proposta que vier for ruim e aqueles que os vão querer votar sim, só pra não ficar com o deles na reta.