“Mercado” pressiona Lula

Logo após o primeiro turno, o mercado financeiro sinalizou haver gostado do resultado, com a subida da Bolsa e a queda de cotação do dólar.

Ao serem entrevistados, representantes de bancos e dos grandes investidores explicaram que o fato de Bolsonaro ter demonstrado mais força do que o previsto, além de o Congresso eleito manter predominância da direita, obrigarão Lula, mesmo que ganhe a eleição, a “caminhar para o centro” e fazer uma política de acordo com os seus interesses.

Um analista do jornal econômico “Valor” (3/10) avalia que agora Lula “deve explicar o que quer realmente dizer quando defende a revogação do teto de gastos e a revisão do atual regime fiscal brasileiro”. E, com relação à reforma tributária, após citar pontos do programa divulgado pelo candidato do PT (sistema solidário, justo e sustentável), decreta: “É pouco”.

Um banqueiro, ouvido pelo jornal, diz que “o mercado reagiu bem à ida da eleição para o segundo turno porque os agentes não estavam felizes em dar ‘um cheque em branco’ ao petista na hipótese de que ele fosse eleito sem precisar se comprometer com algumas questões caras a esse público na área econômica” (“Valor”, 4/10).

O “mercado” quer ditar, ponto por ponto, o que Lula deve dizer e fazer na campanha. E exige saber, com antecedência, quem será o seu ministro da Fazenda, indicando como nome ideal o de Henrique Meirelles, que no governo Temer comandou a economia e a contrarreforma trabalhista, por exemplo.

Economistas tucanos
Os empresários, de acordo com matéria da “Folha de S.Paulo” (5/10), “querem um compromisso claro de Lula em relação ao controle de gastos e obediência a uma forte âncora fiscal”. E mais: “Além disso, pregam a defesa das reformas, especialmente a administrativa e a tributária. Também não querem a revisão das novas regras trabalhistas”.

Quatro economistas tucanos (Edmar Bacha, Pedro Malan, Persio Arida e Armínio Fraga) divulgaram nota conjunta de apoio a Lula no segundo turno, na qual afirmam: “Nossa expectativa é de condução responsável da economia”.

Arida, que coordenou o programa de governo de Alckmin na campanha presidencial de 2018, justificou sua posição dizendo que Bolsonaro não fez tudo o que deveria ter feito! Suas palavras: “O desempenho na economia foi muito ruim. Ele não entregou o que prometeu. Não fez abertura de mercado, nem reforma tributária, muito menos as privatizações que prometeu. A única privatização, a da Eletrobras, é a pior da história” (“Folha”, 7/10).

Daí se pode concluir para onde pretendem levar um futuro governo Lula.

Cláudio Soares

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