Peru, como superar o impasse?

Uma situação convulsiva e semiinsurrecional continua aberta no Peru há cem dias. As ondas de mobilização sobem e baixam, mas o objetivo é sempre acabar com o governo de Dina Boluarte e com o Congresso que a empossou, responsáveis por pelo menos 76 mortos no país.

O governo está isolado e encurralado pela ação contínua das massas. O Congresso, que foi o instrumento do golpe de Estado que afastou Pedro Castillo, tem uma aprovação de 5% segundo as pesquisas. São as forças armadas e policiais que garantem o Estado de Emergência, o toque de recolher e a repressão feroz.

Em todas as regiões do país e nos bairros da capital Lima, o movimento continua de forma incansável. A sua debilidade principal, como temos insistido nas páginas do jornal “El Trabajo”, tribuna livre na qual se expressam os militantes da 4ª Internacional no Peru, está na ausência de uma direção nacional que centralize todo o protesto, e não apenas uma parcela ou fragmento do mesmo. Falta um comando nacional de luta para conquistar o que pedem as ruas – fora com o governo Dina Boluarte e com o Congresso – e ao mesmo tempo abrir caminho para uma Assembleia Constituinte Soberana e com poder.

Pressão da ONU e EUA
O novo na situação é que o governo se complica com a carta enviada pela ONU que exige informações sobre as matanças e a violação dos direitos humanos num prazo de 60 dias. As denúncias de organismos de Direitos Humanos se multiplicam sobre os crimes cometidos pelo governo contra o seu próprio povo, principalmente nas regiões mais remotas do país de forte presença indígena.

Situação que leva até o imperialismo dos EUA a perceber que a manutenção da presidente Dina Boluarte e do atual parlamento podem colocar em risco os seus interesses no Peru. O governo Biden, através de Brad Nichols, ex-embaixador no Peru e representante da Casa Branca para a América Latina, declarou à imprensa internacional em relação ao Peru que “o governo e o congresso deveriam acordar a antecipação de eleições”.

Ocorre que o corredor mineiro, onde se concentram 50% das minas controladas pelo capital estrangeiro, em particular dos EUA, está paralisado por greves e protestos. Sem pedir o fim do Estado de Emergência, o governo Biden pressiona por um novo consenso sobre a base de eleições antecipadas.

Enquanto isso, carros militares da Marinha permanecem estacionados na Praça 2 de Maio, local da sede da CGTP, que é a central sindical mais importante do país e a única organização que poderia centralizar a luta em curso, dada a fragmentação enorme da esquerda peruana, pelo fim do governo e do congresso, por uma Assembleia Constituinte Soberana. É nessa luta que nós, de El Trabajo, estamos engajados.

Correspondente

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