“Os massacres continuam porque a indústria estadunidense de armamentos quer isso”

Reproduzimos aqui extratos de um post de Oskar Lafontaine de 26 de maio. Fundador e antigo copresidente do partido alemão Die Linke (“A Esquerda”), ele o deixou em março de 2022 em virtude da adesão da direção do partido à política de guerra e de rearmamento.

Em 16 de maio de 2023, o jornal americano The New York Times publicou um anúncio de página inteira sobre a guerra na Ucrânia. O texto é assinado por 14 especialistas estadunidenses de alto nível em matéria de segurança. O título do artigo: “Os Estados Unidos deveriam ser uma força para a paz no mundo”. Os autores chamam o presidente Biden a utilizar os seus “plenos poderes para pôr fim rápida e diplomaticamente à guerra Rússia-Ucrânia, em particular face aos graves perigos de uma escalada militar que poderia tornar-se incontrolável”. (…) No mais tardar agora, os vassalos alemães e europeus deverão mudar de opinião. Eisenhower foi o presidente que, em seu discurso de despedida, destacou o efeito prejudicial do complexo militar-industrial na política estadunidense. A guerra na Ucrânia e as numerosas outras guerras estadunidenses são, em última análise, o resultado da ganância da indústria de armamentos estadunidense que, como se sabe, domina o Congresso e o Senado. Hoje já batem o tambor por uma guerra contra a China. Quantos milhões de pessoas terão de morrer antes que o mundo volte à razão? E quando os europeus e os políticos alemães, em primeiro lugar os Verdes, irão perceber que, no final das contas, são apenas o braço armado da indústria de armamentos estadunidense?

No próximo dia 24 de junho falarei em Rammstein e defenderei que nos libertemos da tutela dos EUA e da indústria estadunidense de armamentos, a fim de criar segurança na Europa e um mundo mais pacífico. Aliás, Henry Kissinger, que fará 100 anos neste sábado, recordou também, há alguns dias, no Die Zeit (jornal alemão), os antecedentes da guerra. Já em 2014, o ex-secretário de Estado estadunidense declarava ter “sérias dúvidas quanto ao projeto de convidar a Ucrânia a aderir à Otan”. O que ele confirma hoje: “Foi assim que começou uma série de eventos que culminaram na guerra. Isso não justifica a guerra, mas na época eu pensava e penso ainda hoje que não era sensato associar a adesão de todos os países do antigo bloco do Leste à Otan, nem de convidar a Ucrânia a aderir também à Otan.”

A Ucrânia deveria ter permanecido neutra, prossegue Kissinger. “Porque há uma diferença considerável entre o fato de a fronteira entre as zonas de segurança da Europa e da Rússia estar na fronteira ocidental da Ucrânia, ou seja, a cerca de trezentas milhas de Varsóvia, ou estar localizada na fronteira oriental da Ucrânia, a cerca de trezentas milhas de Moscou. Escrevi na época, em numerosos artigos, que a Ucrânia não deveria ser o entreposto do Ocidente ou de Moscou, mas uma ponte entre as duas partes”.

Publicado no jornal francês Informations Ouvriére
Tradução: Leonardo “Ratão” Ladeira

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