Dois Brasis em luta

No dia 21 de agosto de 2023 a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) promoveu um “debate” sobre a Reforma Tributária. Na mesa, o presidente da Câmara Arthur Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, além de Dario Duringan, secretário-executivo do Ministério da Fazenda.

Josué Gomes, presidente da Fiesp, abriu os trabalhos com uma declaração sincera: “O objetivo deste encontro é, principalmente, debater a Reforma Tributária, mas é também um agradecimento ao Congresso Nacional pelo que ele tem feito pelo Brasil. O Congresso Nacional tem discutido pautas absolutamente relevantes para a evolução das nossas instituições e da nossa economia e tem aprovado temas altamente relevantes”.

Lira não se fez de rogado e respondeu com a mesma deferência: “é um enorme prazer estar aqui na Fiesp, com a presidência do Josué, com toda a sua diretoria, com todos que contribuem para a geração das nossas riquezas, quem gera os nossos impostos, quem mantém toda essa estrutura de pé precisa estar o tempo todo sendo ouvido e a gente dando satisfação.”

Arthur Lira sabe do que fala. Apesar de ser de Alagoas, ele vive entre a sede da Fiesp, na Av. Paulista e a Av. Faria Lima, centro do mercado financeiro no país. É dali que ele recebe as orientações sobre como deve tentar governar, mesmo que para isso solape a vontade popular. É de onde tira suas forças para se comportar como um imperador em Brasília.

Lá pelas tantas do “debate”, Lira se saiu com mais essa: “Essa história de que o Congresso não vai votar isso ou aquilo porque não entregou ministério A ou ministério B, isso não existe em questões de interesse nacional. O Congresso tem dado demonstrações inequívocas: PEC da transição, Arcabouço Fiscal, Reforma Tributária, Carf. Seis meses, mas na verdade dois anos. Reforma da Previdência, trabalhista, marcos da cabotagem, do saneamento, a (privatização da) Eletrobrás, Banco Central Independente. O Congresso está chegando num momento de equilíbrio, de estabilidade, de reconhecer quais são as suas atribuições, os seus limites. A gente anda por aí e vê que nós é que estávamos aquém dos nossos limites” (!).

Toda essa conversa é reveladora. Há dois Brasis. A divisão, no entanto, não é aquela proclamada por Romeu Zema entre Sul-Sudeste x Norte-Nordeste. A divisão é outra. De um lado o Brasil da Fiesp, do mercado financeiro, dessa burguesia vendida e subserviente ao capital internacional. Essa gente pilha o povo brasileiro com gosto! Uma pilhagem sustentada pelas instituições reacionárias que servem à classe dominante.

Do outro lado o Brasil que sofre com o apagão da Eletrobrás privatizada. O Brasil dos trabalhadores que sofrem com a falta de direitos, a terceirização e o trabalho análogo à escravidão. O Brasil dos negros que sofre com a violência policial e o racismo, dos camponeses que sofrem com o atraso da Reforma Agrária, das mulheres que têm que trabalhar várias vezes mais para se aposentar. O Brasil dos adolescentes abandonados no apartheid escolar da Reforma do Ensino Médio.

Este outro Brasil elegeu Lula. Ele aplaude Lula no Rio de Janeiro, durante o lançamento do PAC, mas vaia Lira e Castro (governador do Rio), no mesmo evento. Este Brasil tem a expectativa de recuperar direitos e transformar o país. E vai lutar por isso.

É o que demonstraram os estudantes no dia 11 de agosto, apesar das direções das entidades estudantis, é o que demonstraram as mulheres na Marcha das Margaridas em Brasília. É o que está demonstrando o movimento negro no dia 24. É o que pode demonstrar a CUT se aprovar no seu congresso nacional a construção de uma Marcha a Brasília pela revogação da Reforma Trabalhista. Lula para governar, tem que se apoiar neste Brasil. Nele não cabe Lira.

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