O recado que vem da Argentina

Eleição de Milei é uma derrota histórica para o peronismo

A vitória de Javier Milei por ampla margem de votos contra o candidato peronista Sérgio Massa, no 2º turno das eleições presidenciais argentinas, traz lições também para os países vizinhos e em particular para o Brasil.

Haverá aqueles que, diante da vitória de Milei, vão agitar o espantalho da “ameaça do fascismo”. Via de regra para recomendar ainda mais moderação aos ditos governos “progressistas” da região e propor a ampliação de alianças com o “centro político” para evitar “o pior”. Tal tipo de reação encobre o elemento mais importante trazido pelos resultados eleitorais na Argentina: a crise do peronismo e de sua política de conciliação de classes.

O governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, o responsável direto pela situação de desastre econômico do país com 40% da população abaixo do nível de pobreza e uma inflação de 140% anual, foi fruto de um acordo entre as distintas alas do Partido Justicialista (peronista). O presidente Fernández tentava jogar o papel de “centro” entre Cristina, que seria a ala esquerda, e o ministro da Economia Sérgio Massa, fiador do acordo com o FMI que jogou o país na lona, da ala direita do peronismo. Todos fracassaram juntos. Este sim é um verdadeiro alerta para os governos que insistem numa política de conciliação com o imperialismo e as burguesias locais, em detrimento do atendimento dos interesses populares. Eles não contam com um “cheque em branco” do povo, cedo ou tarde serão cobrados pelas suas atitudes ou ausência delas.

Já as direções sindicais da CGT e das duas CTAs, que hoje atribuem a derrota eleitoral do peronismo ao “desastre” que foi a gestão Fernández, apoiavam o seu governo e não foram capazes de levantar as suas bases contra a sua política pró-FMI. Assim, a ilusão de que o peronismo poderia conciliar classes com interesses opostos, dada a sua “mística” popular, chocou-se com a realidade do voto “bronca” de setores empobrecidos no bufão Milei. A candidatura presidencial de Myriam Bregman pela Frente de Esquerda dos Trabalhadores (FIT-U), por sua vez, não saiu da faixa de 3% dos votos no 1º turno, não sendo capaz, portanto, de atrair, ao menos em parte, o enorme descontentamento popular com o governo peronista.

Cavar as trincheiras da resistência
Javier Milei vai governar junto com a direita tradicional, que já atua no sentido de moderar o seu discurso. Mesmo com esse acordo com o ex-presidente Macri, o novo governo não terá maioria no Congresso e não conta com nenhum governador de província. O empresariado, como sempre, vai se acomodar com o poder de turno. Logo vai recair nos ombros do movimento sindical e popular a resistência contra a política de destruição da nação do novo governo com as promessas de dolarização, privatizações, ataques aos direitos sociais e trabalhistas.

Já na primeira quinta-feira após a sua eleição, em 23 de novembro, e antes mesmo de sua posse no dia 10 de dezembro, ocorreu a primeira manifestação contra Milei, puxada pelas Madres da Praça de Maio diante da Casa Rosada no centro de Buenos Aires. “Nem um passo atrás”, gritavam os manifestantes no ato que teve a presença de sindicatos importantes como a ATE (trabalhadores do Estado) e movimentos de direitos humanos.

Em todas as bases sindicais e nos movimentos populares trata-se, desde já, de cavar as trincheiras da resistência contra a política de Milei. Será essa resistência que decidirá até onde irá essa aventura pró-imperialista contra os interesses do povo trabalhador e da nação argentina.

Julio Turra

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