Apagão: o problema é a privatização!

Como na saúde, na entrega da energia ao capital privado é o vampirismo do lucro que rege

Há uma semana o apagão domina a pauta do debate eleitoral na capital paulista neste segundo turno.

É evidente a responsabilidade da prefeitura paulistana e do governo paulista pelo sofrimento imposto a centenas de milhares de famílias, em especial de famílias trabalhadoras, que ficaram no escuro, muitas ainda estão, que perderam alimentos, que tiveram seus negócios comprometidos.

Governos municipal e estadual têm sim responsabilidade! A do estadual vem dede 1998, do governo Mário Covas (PSDB), que fatiou e privatizou a antiga Eletropaulo. Em 2018, a AES Eletropaulo (fruto do fatiamento da Eletropaulo) foi comprada pela Enel (empresa italiana, fundada como estatal que nas décadas de 1990 e 2000 passou por um processo de privatização e hoje é uma empresa de capital aberto, onde o governo italiano detém participação minoritária).

O prefeito, Ricardo Nunes (vice de Bruno Covas, falecido em 2021), passou três anos fazendo caixa para desovar em sua campanha pela reeleição neste 2024 e deixou a cidade no abandono.

Sim há problemas de poda de árvores, de aterramento de fiação, de descaso da empresa (que é o que mais se fala no debate). Problemas que aliás já haviam sido apontados no apagão de novembro de 2023 e retornam agora em outubro de 2024, apagões que não são raios em céu azul.

No debate eleitoral, fraudulentamente, o prefeito debita tudo na conta do governo federal. Foge da raia para salvar a pele até o próximo 27 de outubro. Mas convenhamos, o nosso candidato Guilherme Boulos (Psol) não está indo direto ao ponto.

Primeiro há que reconhecer que em junho deste ano, em Puglia (na Itália) durante a cúpula do G7, sete meses depois do apagão de 2023, o presidente Lula, manifestou à Enel a disposição de renovar o contrato de concessão, desde que a empresa assumisse o compromisso de ampliar os investimentos no país.

A gente está disposto a renovar o acordo se eles assumirem o compromisso de fazer investimento, e eles assumiram o compromisso”. Explicou: “Ao invés de investirem R$ 11 bilhões, eles vão investir R$ 20 bilhões, nos próximos três anos, prometendo que não haverá mais apagão em nenhum lugar em que eles forem responsáveis.” (Veja 15/10).

 “A empresa italiana Enel adotou uma estratégia global focada em redução de custos, diminuição do quadro de funcionários e cortes nos investimentos, privilegiando o pagamento de dividendos a acionistas estrangeiros, conforme informações do Estadão.

No balanço consolidado de 2023, a Enel relatou 15.721 funcionários, uma queda significativa em relação aos quase 27 mil empregados registrados em 2020.” (DCM, 14/10)

E, no entretanto, no mesmo dia do apagão deste ano, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), em Roma, num Fórum internacional, retomou a possível renovação da concessão à Enel. (Poder360 13/10).

O presidente Lula, assim que assumiu o 3º mandato, fez duras críticas, e com razão, à privatização da Eletrobrás do governo anterior, classificando-a como crime de lesa-pátria.

Esta é a questão central a ser enfrentada. Entregar os serviços públicos à iniciativa privada é um crime de “lesa cidadão”. Basta ver a questão da saúde em São Paulo. Entregue às OSs, a situação para o povo é desesperadora (responsabilidade da prefeitura). Basta ver a privatização dos cemitérios em São Paulo (responsabilidade da prefeitura), onde uma família trabalhadora, para enterrar um ente querido, tem que pagar o que não tem. A agora vem aí a privatização da Sabesp (responsabilidade do governo estadual, com a cumplicidade da prefeitura). Vai faltar atendimento para garantir o “pagamento dos dividendos dos acionistas”, como diz a Enel na lógica da privatização.

Não há privatizações bem feitas ou mal feitas! Não há uma empresa privada relapsa e entra outra boa. Nem há fiscalização, como mostram as OSs, que dê conta do apetite vampiresco pelo lucro. Há o serviço público que deve estar a serviço da maioria da população trabalhadora e há o privado, que está a serviço de uma minoria de sangue sugas. Então, companheiro e nosso candidato Boulos: vamos incluir na batalha pela nossa vitória em 27 de outubro o compromisso com a luta pela reestatização? Saúde, Energia, cemitérios…e banir da nossa cidade, onde estiver ao nosso alcance, os vampiros dos serviços públicos?

Misa Boito

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