Quase tudo pode acontecer de 11 a 13 de junho, em Salvador, Bahia
Será em meio à sua maior crise que o PT, hoje, um partido encabrestado ao “governo da coalizão” com o PMDB, acuado por uma campanha reacionária pela sua “extinção” e semiparalisado organizativamente, vai realizar a “segunda fase” do seu 5º Congresso, em Salvador.
Ela vai reunir apenas 800 dos 1600 delegados eleitos há dois anos no último PED (Processo Eleitoral Direto), porque começaram a secar as fontes de financiamento “empresarial”.
Os jornais estampam os impasses de uma direção dividida sobre as propostas que vão desde uma “frente” substituta do partido, salvadora da candidatura presidencial de Lula em 2018, até uma abreviação do mandato da atual direção partidária numa espécie de “acordão” das correntes e lideranças. Documentos lançados nos últimos dias indicam as posições em disputa, para além das sete teses inscritas, mas desprezadas nas etapas municipais e estaduais desse Congresso, mesmo porque estas, em geral, não deliberavam.
Mais do mesmo
Monica Valente, liderança da corrente majoritária, construindo um Novo Brasil (CNB), publicou um texto reivindicando a glória da “revolução democrática” realizada nos 12 anos de governo do PT.
Será? Líderes do PT estão injustamente condenados ou presos pelo Judiciário. O Congresso Nacional – o “mais conservador desde 64” – trava, quando não faz recuar os direitos democráticos e sociais.
A verdade é que as reformas democráticas (agrária, urbana e política), não foram feitas nesses 12 anos, quanto mais uma “revolução”?!
Face às inegáveis dificuldades atuais, Monica procura abrigo nos “novos atores sociais”, na horizontalidade e nas redes. Um discurso falsamente moderno em voga na cúpula desde as manifestações de junho de 2013, que não impediu o partido de afundar. Monica defende o famigerado PED, fator de corrupção interna, manipulação e carregamento de eleitores pelo poder econômico o qual ela propõe estender também à eleição dos Setoriais (Sindical, Mulheres etc.). É mais do mesmo.
Mas ela tem razão num aspecto: reagir à “difamação” do PT, através da “defesa coletiva” pelo partido dos dirigentes que, de fato, faz falta desde o mensalão. É preciso concretizar ações contra os acusadores do Judiciário, rompendo o cerco atual. Lembremos que, no último programa de TV do PT, o presidente Rui Falcão cedeu ao cerco falando em afastar do partido qualquer condenado pela Justiça.
Parece, mas não é
O “campo” da Mensagem ao Partido (MSG), integrado por muitos parlamentares e ministros, apresenta-se como a maior oposição interna, como diz o ex-governador Tarso Genro. Mais visível, de fato é mas, já oposição, nem tanto.
A Democracia Socialista (DS), grupo mais compacto e determinante na MSG, acaba de publicar textos críticos à política econômica – embora só um de seus deputados não tenha votado as MPs 664-665 – e fala agora claramente em “fim do PED” e eleição em Congressos, o que é em si positivo.
Mas, na sequência, defende uma “constituinte petista aberta à participação da base militante do PT e da esquerda social para elaborar um novo Manifesto”, ou seja, a velha tese da refundação abandonando as posições originais do PT – um desastre!
A DS também pede o “afastamento da direção de filiados em condição de réu ou sob inquérito criminal”, isto é, ales que nem mesmo foram condenados. O juiz Moro e o STF agradecem.
Diálogo e Ação petista (DAP)
A Tese inscrita pelo DAP, ali onde pôde ser discutida nas etapas municipais e plenárias, ganhou espaço nesta situação de crise, por isso mesmo. O Comitê Nacional do DAP, em comunicado desta semana, sintetizou em três linhas de força a argumentação de suas modestas bancadas de delegados nas etapas Estaduais nos próximos dias e no 5o Congresso:
- Defesa do partido contra os ataques da reação, através do judiciário: passar a “acusar o acusador” e denunciar o papel da Justiça para romper politicamente o cerco e apontando para a Constituinte do sistema político – o que inclui a Justiça. Exigir a liberdade para Vaccari e também recusar a expulsão de simples réus ou “condenados” pela manipulação.
- Subir o tom na exigência da mudança da política econômica do governo Dilma; levantar “Abaixo o Plano Levy” e apresentar a alternativa da tese DAP: fim do superávit fiscal primário; derrubada dos juros e controle do câmbio para discussão de um plano do PT em conjunto com outros setores do partido que resistem às MPs 664-665.
- Reconstruir o partido desde a base com a decisão de, neste congresso, de terminar com o PED e voltar a eleger as direções já nos Encontros de delegados do ano que vem; apoiar a recusa do financiamento empresarial de campanha no PT, tanto pelos diretórios em todos os níveis, quanto pelos candidatos às eleições.
Markus Sokol
artigo originalmente publicado na edição nº 766 de 20 de maio do jornal O Trabalho