Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos: campanha contra o golpe no Brasil

O Comitê Nacional do Diálogo e Ação Petista dirigiu-se ao Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AcIT)  para que ajude a impulsionar uma campanha internacional contra o golpe em curso no Brasil. 

O AcIT respondeu afirmativamente e a campanha, desde seu início, em 24 de março, em vários países, mobilizaram-se centenas de ativistas, entidades sindicais e partidárias que enviaram moções e notícias de delegações às embaixadas ou consulados brasileiros e atividades de solidariedade.

Veja fotos de algumas delegações à embaixadas e posicionamentos de entidades em solidariedade ao povo brasileiro:

Argélia – Uma delegação de dirigentes e deputados do Partido dos Trabalhadores da Argélia foi recebida em 30 de março pelo embaixador brasileiro em Argel, Eduardo Botelho Barbosa. Ela levou uma moção de apoio à resistência operária e popular, contra o processo de destituição da presidente Dilma, aprovada no congresso do partido, e travaram uma discussão franca com o diplomata brasileiro.

A delegação explicou que, embora o PT argelino não tenha laços orgânicos com o PT do Brasil, acompanha com atenção a grave situação política brasileira.

Os membros do PT argelino afirmaram que durante os mandatos de Lula e Dilma, apesar de insuficiências e contradições, houve avanços importantes. A avaliação do partido é que as conquistas obtidas, após duras batalhas do PT, da CUT e do povo trabalhador, estão ameaçadas pelo processo golpista, apoiado por todos aqueles que, interna ou externamente – como o governo e as grandes empresas dos EUA –, estão interessados em ver a queda de Dilma.

Citando a condução coercitiva de Lula, sob as câmeras de TV e as campanhas da mídia de ataques ao PT e à CUT, a delegação afirmou que há uma tentativa de fazer o país retroceder. E explicou que o PT argelino defende incondicionalmente a soberania do povo brasileiro.

O embaixador declarou-se “muito tocado pelo interesse apresentado pelo PT da Argélia a respeito do que ocorre no Brasil, porque, de fato, a crise política é grave e o desafio hoje é a manutenção do progresso social inegável obtido sob o impulso dos governos do PT do Brasil”. Recusou, porém, a expressão “golpe”.

Retomando a palavra, a delegação afirmou que os governos imperialistas, em particular os EUA, estão sempre envolvidos em golpes ou tentativas de desestabilização de governos que resistem a eles, como os da Venezuela e da Bolívia. Para a delegação, há um plano pró-imperialista da direita brasileira, orquestrada para mergulhar o Brasil no caos. O papel extremamente hostil do juiz Moro, conhecido por sua oposição ao PT, foi igualmente citado. Contrariamente à posição do embaixador – que mudou de tom no fim da discussão –, a Justiça brasileira, como a de todos os países, está sujeita às pressões de poderosos lobbies, assinalou ainda a delegação do PT argelino.

O embaixador, em sua última intervenção, agradeceuo interesse do PT argelino e prometeu transmitir às autoridades do Brasil a moção aprovada pelo congresso do partido

Portugal –cerca de 150 pessoas, na sua maioria estudantes brasileiros, participaram do ato contra o golpe no dia 29 de março, em Lisboa, em frente à faculdade de Direito da cidade, na abertura do IV seminário Luso-Brasileiro de Direito. Políticos e juristas brasileiros golpistas, como o ministro do STF Gilmar Mendes, José Serra e Aécio Neves, participantes do seminário e tiveram que escutar os manifestantes: “Não vai ter golpe! ”, “O Pré-sal é nosso! ”, “A verdade é dura, a OAB apoiou a ditadura!”.

No ato, militantes do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), membro do AcIT, divulgaram sua posição contra o golpe e recolheram assinaturas – de dirigentes de organizações sindicais e partidárias – visando organizar uma delegação à Embaixada do Brasil.

Sem resposta da embaixada, em 12 de abril, foi renovado o pedido de audiência, em carta ao embaixador Mário Vilalva: “É assim legítimo que cidadãos portugueses tenham pedido uma audiência à Embaixada do Brasil para expressar estas preocupações e pedir uma informação, da parte de Vossa Excelência ou de quem o represente, sobre estes acontecimentos.Uma diligência que já foi feita noutros países e que teve naturalmente uma resposta positiva (…), reiteramos o nosso pedido de audiência e aguardamos que nos dê conhecimento do resultado da vossa comunicação ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil e, ao mesmo tempo, iremos transmitir esta informação a todos aqueles que assinaram uma carta expressando preocupação com os acontecimentos no Brasil”. O embaixador ainda não se manifestou.

Peru – Em 30 de março, sindicalistas foram recebidos na Embaixada do Brasil por Segundo Bezerra, segundo secretário, e entregaram um documento, assinado por 74 dirigentes sindicais, contra o golpe. Compuseram a delegação dirigentes da central sindical CGTP, do Sindicato Siderperú e da Federação nacional dos docentes. “Bezerra expressou que confiava na permanência da presidente Dilma. De nossa parte assinalamos que rechaçamos qualquer intento golpista e que comunicaríamos também à direção da CUT a boa recepção de nossa delegação”.

Lima, Peru
Lima, Peru

México – Em 29 de março, uma delegação composta por Augusto Reyes Medina e Laurentino Villegas Caballero, membros da Coordenação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Luis Vázquez, membro da Comissão Executiva Nacional da Organização Política do Povo e dos Trabalhadores (OPT), Humberto Martínez Brizuela, da Assembleia Nacional Representativa da CNTE e Braulio Sánchez, dirigente do Sindicato Independente dos Trabalhadores da Universidade Metropolitana (SITUAM), foi recebida na Embaixada do Brasil, por Fabio Meira Dias, primeiro secretário.

Pag. 12 delegação México

 

A delegação entregou um texto com o posicionamento contra o golpe, adotado pela assembleia nacional da CNTE.

Venezuela – El Trabajador, periódico do agrupamento de militantes venezuelanos, aderente do AcIT, também se engajou na campanha contra o golpe no Brasil. Na edição de março escreve: “uma vitória imperialista no Brasil mudaria dramaticamente a situação na região. Ela teria um impacto direto sobre a Venezuela e um efeito dominó sobre os outros governos da região”.

Chile – A Confederação de Sindicatos Bancários, fez chegar seu posicionamento que alerta: “O triunfo da reação no Brasil, seria trágico para todos os povos do continente. Por isso não podemos nos calar diante das ameaças, e manifestamos nossa total solidariedade como movimento sindical e popular do Brasil, com seu povo, seus trabalhadores e com os defensores da democracia, ameaçada pela reação”.

França – No dia 4 de abril uma delegação composta pelos sindicalistas Edith Bouratchik (CGT-FO) e Samy Hayon (CGT), por John Blot (Partido Operário Independente) e Gerard Bauvert (Comitê Internacional contra a Repressão) foi recebida pelo embaixador do Brasil em Paris, Paulo C. O. Campos.

A delegação apresentou uma moção (lançada pelo AcIT) com 400 assinaturas de líderes sindicais e personalidades democráticas na França que estão, não apenas preocupados com a situação no Brasil que ameaça seriamente as organizações dos trabalhadores e as conquistas sociais da população, mas também indignados com a violência de ataques da direita e por alguns juízes e meios de comunicação do país, que é semelhante ao que pode ser chamado de um “golpe judicial”.

Pag. 12 Delegação França

 

O Embaixador agradeceu à delegação e disse: “eu sempre gosto de estar com as pessoas que estão trabalhando pela a democracia. Há um movimento que não aceita resultados eleitorais (…). E há, do outro lado, muitos que têm protestando pela democracia, contra o impeachment. Nós temos no Brasil uma imprensa que expressa apenas a posição da oposição ao governo. E é isso que os meios de comunicação internacionais mostram: apenas um lado da informação”.

A delegação agradeceu o embaixador por sua recepção e assegurou também sua determinação para continuar a campanha. O embaixador comprometeu-se em fazer chegar tal mensagem ao governo brasileiro.

Espanha – Madri: em 5 de abril, uma delegação de sindicalistas das centrais sindicais CCOO e CGT foi recebida na Embaixada do Brasil em Madri, pelo ministro conselheiro, Rafael de Mello Vital.

A delegação explicou que seu objetivo era encaminhar uma moção surgida do próprio Brasil solicitando apoios para o rechaço ao golpe. Foi entregue então uma ampla lista de assinaturas da moção com nomes de militantes de várias correntes: do partido Socialista, do Comunista, de trotskistas e de sindicalistas.

Pag. 12 Delegação espanha

 

O representante da embaixada explicou, em detalhes, aos sindicalistas espanhóis a situação do processo que afeta a Presidente, destacando a votação do impeachment no dia 15 na Câmara e o possível posicionamento do Supremo.

Após ouvi-lo, os sindicalistas disseram, “nós na Espanha tivemos uma situação parecida, em que se aproveitando de umas acusações de corrupção em Sevilha, a polícia chegou a parar o trânsito para intervir na sede da UGT, montar todo o show midiático que interessava aos setores de direita da sociedade e apreender computadores com dados dos sindicatos etc. Ou seja, se utiliza muitas vezes da palavra corrupção para atacar as organizações operárias e democráticas. E nós queremos estar ao lado das organizações dos trabalhadores no Brasil, neste momento em que querem utilizar acusações não comprovadas contra Lula e Dilma, para atacar o PT, a CUT e o mandato da Presidente de mais de 54 milhões de votos.

Não conhecemos como funciona a Justiça no Brasil. Mas na Espanha todo o aparato judicial tem suas raízes na ditadura de Franco. Sua seleção, funcionamento, escolas, são uma continuação. Isso se nota em todos os aspectos judiciais relacionados aos direitos democráticos dos sindicatos, das liberdades públicas.

A condução coercitiva de Lula, feita por um juiz que extrapolou totalmente a legalidade, gerou um curso golpista e de insegurança aos direitos arrancados pelo movimento dos trabalhadores. Conhecemos o que está ocorrendo em alguns países em que o imperialismo quer romper a resistência (…) às pretensões dos EUA. Para todos eles se aplica a mesma política, como na Venezuela. O Brasil é um país muito importante, não só na América Latina, mas também para o movimento dos trabalhadores em nosso país.”

Bilbao (País Basco) – Em 4 de abril, uma delegação organizada por sindicalistas foi recebida no Consulado brasileiro.

Pag.12 Bilbao

 

Alemanha – dirigentes dos sindicatos Ver.di e GEW em mensagem à Embaixada do Brasil, se posicionam: “Em nome de companheiros sindicalistas de diferente sindicatos da DGB nos declaramos nossa total solidariedade ao povo brasileiro, ao povo trabalhador e à juventude que respondem por todo o país aos apelos da CUT, do MST, da UNE e do PT, e dezenas de outras organizações, e se manifestam para dizer não ao golpe. ”

A embaixatriz, Maria Luíza Ribeiro Viotti, em sua resposta agradece a manifestação e afirma: “com efeito, o país vive atualmente uma situação difícil que torna necessário uma de medidas por parte do governo brasileiro para restabelecer a estabilidade política e econômica (…)um grupo de parlamentares Brasil-Alemanha, sob direção do deputado Manfred Zöllmer (SPD) irá ao Brasil para uma visita de trabalho. O programa da visita compreende entre outras atividades, encontro com membros do governo, representantes de fundações e dirigentes locais. Um dos objetivos dessa visita é, particularmente, poder ter uma opinião a partir de informações em primeira mão sobre a situação política no Brasil. ”

Equador – no dia 6 de abril, uma delegação de sindicalistas representando a Associação de servidores da Transeletric e das Empresas de Água de Quito foi recebida na embaixada brasileira no Equador.

Togo –  em 6 de abril, uma representação do Partido dos Trabalhadores do Togo entregou na Embaixada do Brasil, em Lomé, uma carta solicitando uma audiência com o embaixador, o qual deveria receber também uma delegação da central UNSIT.

Estão previstas também uma delegação à Embaixada do Brasil na Bélgica. Da Suíça, Argentina, Camarões, Canadá, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Guadalupe, Haiti e Ilhas Reunião, também chegaram mensagens de solidariedade à luta contra o golpe no Brasil.

Informações reprozidas da Carta nº 2 do AcIT – abril de 2016  

 

 

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