Aberta a porta para a acomodação com os golpistas
O deputado Rodrigo Maia, do Democratas (DEM), golpista, foi eleito presidente da Câmara como 258 votos para substituir Eduardo Cunha (PMDB), que havia renunciado, derrotando em 2º turno o golpista Rodrigo Rosso, do PSD, com 170 votos.
Metade da bancada do PT ajudou a eleger Maia, outra metade – de todas as principais correntes do PT – se retirou da votação.
O apoio de parte do PT e da grande maioria do PCdoB, começou a ser costurado, segundo a imprensa, na casa de Maia, no Rio, pelos deputados Carlos Sampaio (PSDB) e Orlando Silva (PCdoB), quem conversou com Lula que aprovou e levou a proposta à bancada da corrente do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), onde encontrou resistência (jornal O Estado de São Paulo, 15/7/16).
O fato repercutiu muito mal na opinião democrática, porque enfraquece a luta contra o golpe e, entre os petistas, porque amplia a crise do partido. As correntes do PT não tiraram nenhuma nota (exceto o Diálogo e Ação Petista, leia abaixo) e, uma semana depois, seguem em silêncio.
Ninguém é de ninguém
No 1º turno, havia várias táticas possíveis:
- abster-se da votação (no fundamental, já decidida);
- unir a esquerda: Luiza Erundina se lançou contra Jean Wyllis, ambos do PSOL, por cálculo eleitoral próprio; Orlando Silva, do PCdoB, também se lançou, por motivos nebulosos;
- apoiar um candidato anti-golpe: o ex-ministro Marcelo Castro que denunciou o impeachment, foi lançado pelo PMDB, mas numa manobra; depois foi esmagado por Temer;
- marcar posição com um candidato próprio: Maria do Rosário se lançou mas retirou horas depois.
A bancada reunida, chegou a recusar o apoio a Maia a pretexto de isolar Rosso (ligado a Cunha), adotando o critério do Diretório Nacional de não apoiar golpistas, mas apesar de indicar o apoio a Castro, a bancada se dividiu, tanto o CNB quanto a Mensagem, os principais blocos. Inclusive a corrente Democracia Socialista (DS) teve deputado votando em Luiza Erundina, Orlando Silva e em Marcelo Castro!
No 2o turno, a bancada decidiu, então, não indicar o voto e autorizou quem quisesse a se retirar do plenário.
É notável que não houve reunião da Executiva para fixar posição (bancada não é instância partidária). É certo que o apoio a presidentes do Legislativo, não é igual a presidentes do Executivo. Mas na atual crise política, se elegia o primeiro na linha sucessória de Michel Temer!
O líder da bancada, Afonso Florence (DS), justificou que “quem está fora do Congresso não pode avaliar aspectos da luta parlamentar”, o que é um absurdo num partido de trabalhadores. Não tem cabimento apoiar Maia “mal-menor” que Rosso-Cunha, porque eleito vai fazer todo mal que puder. Ele já anunciou suas prioridades para em agosto: votar o teto de gastos dos Estados e a flexibilização do Pré-sal!
A raiz da crise
Esse episódio agrava a crise do PT, cuja raiz está no abandono das reformas populares, adaptando-se às instituições apodrecidas que hoje patrocinam o golpe. Origem do vale-tudo que leva a acordos com partidos opostos aos compromissos do PT.
No caso, é legitimo perguntar, se apoiar o nome do DEM na Câmara, ao lado de, no Senado, propor antecipar as eleições presidenciais, não sinalizam a porta aberta para “negociar” com os golpistas e se acomodar, assim, ao próprio golpe.
O Fora Temer coloca a necessidade de reconstrução do PT.
Markus Sokol
A posição do Diálogo e Ação Petista (DAP)
“O Comitê Nacional do Diálogo e Ação Petista, sem fixar posição sobre as várias táticas parlamentares possíveis tem, não obstante, sobre esse episódio, uma posição clara: em nenhum caso o PT – ou qualquer deputado – deveria ter contribuído para eleger como presidente da Câmara um golpista que vai comandar a votação de projetos de retirada de direitos e ataques aos trabalhadores.
15 de julho de 2016″
Textos originalmente publicados na edição nº 790 do jornal O TRABALHO de 22 de julho de 2016.