Com menos de seis meses, já há brasileiros perguntando se o governo Bolsonaro chega ao fim.
De forma precoce aparecem evidências de crise em vários terrenos, a troca de alguns ministros e o apodrecimento dos “superministros” Moro e Guedes, é uma evidência. Mas esse não pode ser avaliado como outros tipos de governo.
De fato, este é um governo vertical e autoritário, ultra mercado, vende pátria e obscurantista que, por isso mesmo, não pode conviver normalmente com o parlamento com o qual se choca repetidamente, mesmo um parlamento à venda, como é o Congresso Nacional. Ele tirou parte de sua força original do fato de conseguir passar por antipolítico, “antissistema”, num sistema esgotado. Embora, na realidade, seja produto das instituições jurídicas e militares que deram o golpe “parlamentar” do impeachment e, na falta de outro, se reagruparam todas na sua candidatura no 2o turno para derrotar o PT. Com apoio midiático, patronal e de igrejas.
Mas Bolsonaro é um governo de choques, vai-e-vens, governo de crise que governa pela crise, inclusive produto da luta de várias alas, até que seja detido por uma força maior. No caso, a força da luta do povo trabalhador. Porque a classe dominante, mesmo torcendo o nariz, lhe apóia para realizar as contrarreformas antipopulares e antinacionais que outros governos não puderam, como é o caso da reforma da Previdência (na tradição marxista, é um tipo de governo bonapartista).
Ruptura institucional
Mais de uma vez, Bolsonaro e seu entorno falaram em “ruptura institucional”. Sim, pois mesmo apoiado nas instituições atuais que o produziram-no seu esgoto, para ser exato -, ele busca impor uma derrota completa aos trabalhadores, para o que precisa de novas instituições. Novamente na Previdência, a capitalização individual à moda chilena é (ou era) o exemplo de nova instituição do trabalho, e depois viria a “carteira verde-amarela” sem os direitos da CLT já reformada. Mas para isso, como confessou o “sábio” ministro Ônix Lorenzoni, foi feito um banho-de-sangue no Chile. Aqui?
Aí vem outro exemplo, o chilique do principal general do Planalto, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, líder da turma do Haiti. Na manhã do dia da greve geral, esmurrou a mesa pedindo “prisão perpétua” para Lula, irritado com a entrevista do preso dias antes, mas provavelmente muito mais irritado com o dossiê da greve geral em curso que seus “arapongas” já lhe tinham informado. A prisão perpétua era um instituto que acabou com a ditadura, mas é com estas “cositas” que sua turma sonha.
Não é um espanto, estamos já há três anos num “estado de exceção” que se agrava. O bolsonarismo se estrutura aos trancos e barrancos, inclusive nas ruas, ao preço de rupturas e desgaste, mas segue.
Mesmo se as organizações dos trabalhadores estão de pé, com capacidade de convocatória mostrada estas semanas tocando milhões e a greve geral.
A questão é como sair disso, não apenas trocar Bolsonaro por Mourão (impeachment) ou Maia (anulação do pleito), sem manter a mesma política econômica? Como, sem abandonar o altar das instituições da Constituição de 88 – de onde saiu o golpe e a prisão Lula – o suposto estado de direito que já não existe?
Como, senão pelo meio democrático da Constituinte com um governo encabeçado pelo PT com Lula Livre? É o tema do próximo artigo.
19 de junho, J.A.L.