A pandemia na África: caos e resistência

“A África deve se preparar para o pior”, disse a OMS em 25 de março.

O pior? Foi preparado desde várias décadas, pelos planos de ajuste estrutural aplicados sob a direção do FMI e do Banco Mundial. Estados foram asfixiados em nome do pagamento de uma dívida usurária, privatizou-se tudo o que podia ser privatizado e desmantelaram seus serviços públicos.

Responsáveis e culpáveis são as instituições internacionais, as potências imperialistas e os governos submissos que lideraram essa política criminosa, que impossibilitou qualquer desenvolvimento desses países, reduzidos a permanecer como exportadores de matérias primas, e destruiu seus sistemas de saúde.

E hoje, os povos ainda se dobram sob o peso do pagamento dessa dívida injusta, enquanto a queda dos preços das matérias primas e a recessão econômica vão estancar os fluxos financeiros.

O sindicato dos médicos da República do Congo, Synamed, que recentemente organizou uma greve, preocupava-se, em 2 de abril, pela situação de insuficiência de proteções individuais, ambulâncias, respiradores (vinte nos hospitais públicos de todo o país). “A pandemia põe a nu a responsabilidade manifesta das autoridades, dos governos passados e possivelmente do governo atual”, ele declarou.

Uma apreciação que, sem dúvida, vale para a maior parte dos países.

Estamos a cem mil léguas das recomendações da OMS: “Para controlar e pôr fim à epidemia, os países devem testar, isolar e rastrear os contatos.” Isto não é feito em nenhum lugar, e muito menos na África.

As medidas de confinamento adotadas pelos governos arriscam levar direto à fome. Zonas confinadas sem reabastecimento, aumento dos preços… A especulação nos mercados de produtos agrícolas como em 2008-2009 tende a ser fomentada pelos bilhões injetados pelos bancos dos países da OCDE: são os próprios dirigentes da FAO, da OMS e da OMC que dizem!

A repressão policial, as leis de exceção, já começaram a ser aplicadas. “Toque de recolher: a África Ocidental se rebela. Burkina Faso, Costa do Marfim, Senegal… Nestes três países, a polícia espanca e humilha para fazer respeitar as medidas de confinamento aos infratores”, destacou o jornal Le Monde em 31 de março.

Todos temem que, diante da falência dos governos e de seus mentores imperialistas, os povos se revoltem e com a dívida que estrangula, a fome e a pandemia que matam, os governos tenham apenas a repressão por resposta.

Alguns dados alarmantes:

▪ República Centro-Africana: população de cerca de 5 milhões de pessoas possui apenas três respiradores.

▪ Burkina Faso, a proporção é de 11 respiradores para 19 milhões de cidadãos. Em Serra Leoa, são 18 para 7,5 milhões.

▪ Gambia não possui leitos de UTI; cerca de 100 seriam criados, para uma necessidade de 1000

▪ Somália só tem 15 leitos UTI para quase 15 milhões de pessoas, o Malauí, 25 para 17 milhões e Uganda, 55 para 43 milhões.

▪ Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), na região subsaariana, 63% das pessoas que vivem em áreas urbanas (ou 258 milhões de pessoas) não têm acesso à possibilidade de lavar as mãos.

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