Awad Abdelfattah, co-coordenador da Campanha por um único Estado democrático, fala sobre a questão palestina, diante do levante, sem precedentes do povo palestino, em toda a extensão do território histórico da Palestina, com destaque para o lugar dos jovens. Os contatos entre jovens do interior de Israel, da Cisjordânia e de Gaza também se ampliaram de forma nunca vista.
Difamados e insultados pelos dirigentes árabes e seus serviçais, incluindo os da Autoridade Palestina, ignorados pelos proponentes da pseudo-solução dos dois Estados ao redor do mundo, os palestinos do interior, cidadãos israelenses de segunda classe, afirmaram a unidade de todo o seu povo. Abaixo trechos de artigo publicado em um site palestino.
Palestinos lutam pela libertação nacional
A questão palestina é, primeiramente, uma questão de libertação nacional, e não um conflito entre duas partes iguais. Em segundo lugar, Israel é uma entidade colonial de ocupação e um regime de apartheid. Terceiro, o movimento sionista é um movimento colonial e racista europeu e não tem nenhum fundamento histórico ou religioso na Palestina. Existe uma diferença entre judaísmo e sionismo. Quarto, a Palestina é uma unidade geográfica única. Quinto, para o povo palestino é um direito e um dever resistir e lutar pela libertação de sua pátria e pelo retorno dos refugiados.
Esses são os componentes e valores sobre os quais se basearam os contingentes de militantes, bem como as diferentes camadas sociais em todos os lugares onde se encontra o povo palestino.
Oslo* baseou-se na destruição desses componentes, valores e princípios, e os substituiu por um dicionário político e ideológico híbrido, liderado por um grupo influente que rapidamente abandonou o passado do movimento nacional e se transformou em uma ampla classe política e econômica, que tira sua principal legitimidade e sua sobrevivência da vinculação ao colonial.
Sob a direção dessa classe, o estado de fragmentação e desintegração políticas se aprofundou, e cada comunidade palestina agora tem suas próprias preocupações e sua própria agenda, sem um projeto político nacional abrangente. Por sua vez, o projeto de colonização se espalhou sobre toda a Palestina.
Papel da juventude
Apesar da dominação dessa classe corrupta, diversos movimentos ideológicos e populares, esporádicos no tempo e no espaço, e variando em amplitude e número, desenvolveram-se na arena política palestina. Eles sempre confrontaram o colonizador, bem como a política dessa classe política negligente. Com o passar do tempo, esses movimentos se fortaleceram e se expressaram em todos os agrupamentos do povo palestino, no país e no exterior.
Eles agiram rapidamente para coordenar e convergir em um único movimento, sem, no entanto, ficar preso a um quadro. Esses movimentos foram a expressão da vontade de um povo de se reconectar com a aspiração de uma só Palestina, desafiando a cultura da fragmentação e da derrota.
Esse movimento assumiu o caráter de um processo de reconstrução do projeto nacional palestino (de baixo para cima) e por fora dessas entidades oficiais sem legitimidade, revolucionária ou eleitoral. No centro deste processo, a juventude é a força motriz, especialmente por meio da sua vanguarda mais consciente.
A juventude desempenha um papel fundamental neste processo, sendo a única capaz de manter a vigilância necessária e garantir a renovação das gerações, algo que a classe corrupta não pode assumir, tanto do ponto de vista dos muitos dirigentes das facções palestinas como dos dirigentes membros da coalizão dos partidos árabes, incapazes de perceber ou de compreender esse processo.
Awad Abdelfattah
*Referência aos Acordos de Oslo (Noruega), assinados em 1993 entre Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelense, e Yasser Arafat, presidente do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), sob a liderança de Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos. (Nota de OT)