A situação do Agente Comunitário de Saúde e de Endemias na Pandemia da COVID-19

Na coletiva de imprensa do dia 14 de abril o ministro da saúde fez um “chamamento” aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), apelando para que junto aos profissionais de Serviço Social (CRASS) fizessem mapas das regiões onde atuam para identificar os mais vulneráveis e suscetíveis à doença e se preparassem para visitas quando chegarem os EPIs. A realidade destes profissionais já é de se confrontar à ordem das visitas mesmo sem equipamentos de proteção. Trabalham em condições muito difíceis, sem treinamento específico e com baixíssimos salários. É o que nos conta nesta entrevista a ACS Silvia Marcênio de Jesus, de Feira de Santana, na Bahia.

O Trabalho: Qual está sendo a rotina de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde diante dessa pandemia?

Sílvia Marcênio: Nós ACS somos a peça chave da Estratégia Saúde da Família. Pois o agente comunitário de saúde desempenha o papel de prevenção e reabilitação do adoecimento por meio de: orientação, educação e promoção a saúde. Essas ações são realizadas seguindo um passo a passo, ou seja, primeiro o ACS deve morar na comunidade e isso é o diferencial dos demais componentes da equipe saúde da família da atenção básica. A partir dessa adscrição de indicadores das famílias em base geográfica definida nós ACS fazemos o cadastramento dessas famílias para acompanhar por meio de visitas domiciliares mensalmente.
Mas diante dessa pandemia da COVID-19, nós estamos numa área de risco tanto pessoal, como oferecemos riscos também para as famílias, pois realizamos uma função que temos que adentrar os domicílios.

O Trabalho: Vocês estão recebendo os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) suficientes para se protegerem?

Silvia: Como sabemos a COVID-19 é um problema pandêmico que julgamos ter pego muitos países de surpresas principalmente pela forma de infecção que contribui na velocidade do número de pessoas infectadas. Mas, isso não isenta o poder público da sua responsabilidade como: falta de agilidade de criar medidas de proteger a população e reduzir a contaminação em massa num tempo  muito curto. Também desenvolver ações sociais que garantam o sustento básico de sobrevivência. Mas, principalmente dar condição de trabalho para os profissionais de saúde que estão na linha de frente do enfrentamento à essa pandemia da COVID-19, como é o nosso caso.

Pois o surto começou em Dezembro de 2019 19 já estarmos em abril de 2020 e os ACSs continuam na área sem nenhum treinamento específico, e principalmente sem EPIs. Com essa exposição estamos colocando a nossa vida e a vida da comunidade em risco!

O Trabalho: Qual o salário base de um ACS em Feira de Santana?

Silvia: A categoria de Agentes de Saúde e de Endemias passou a contar com um piso salarial desde 14 Junho de 2014 pela lei 12.994, sancionada pela então presidenta da República Dilma Rousseff. Porém o município de Feira de Santana só começou a pagar o piso em julho de 2016 e não pagou até então o retroativo. Após muitas marchas a Brasília nossa categoria conseguiu um reajuste escalonada que chegará em R$1.550,00 a partir de janeiro de 2022. Mas no momento atual ainda está em R$ 1.250,00 o salário base.

O Trabalho: Como você avalia o governo Bolsonaro diante da crise econômica do país que se agravou com o covid-19?

Silvia: Bem, não podemos negar que o Brasil é um país rico de recursos naturais. Mas, é fato há deficiência política na distribuição de renda. O golpe de 2016 coloca o Brasil no limite do abismo pois gerou uma crise econômica profunda com a crise política. O caos social se agrava com a reforma trabalhista e previdenciária pois tira direitos da classe trabalhadora e protege o empresariado. E como se não bastasse agora uma crise pandêmica  do coronavírus, um governo desequilibrado,irresponsável, desumano e ditador, com todo seu ministeriado despreparado sem nenhum compromisso com o bem estar da nação!

O Trabalho: O que o sindicato da categoria de vocês tem feito para defender os direitos da categoria?

Silvia: Diante de um problema pandêmico da COVID-19, a população está em pânico principalmente com um desgoverno que o Brasil está enfrentando. E com a categoria de trabalhadores Agentes de Saúde não é diferente. Pois falta diálogo entre a categoria e os representantes dos mesmos para que se faça um enfrentamento junto à secretaria de saúde que age com descaso com a nossa categoria desde sempre e principalmente no cenário de enfrentamento à covid-19.
A categoria continua no campo sem orientação e proteção e nenhum medida foi tomada até agora pela direção SINDICAL da categoria (sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde, da cidade).

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