Abaixo a guerra no Sudão!

O balanço de três semanas de enfrentamentos sangrentos no Sudão é terrível: 528 mortos e 4.599 feridos, de acordo com números oficiais. Os combates de rua atingem Cartum, a capital, e outras cidades, como El Fasher, Nyala, El Obeid e Merowe.

As populações são obrigadas a ficar em casa, aterrorizadas, sem energia elétrica, sem água nem comida, ou a tentar fugir. Dezenas de milhares de sudaneses escaparam dos combates em direção ao Egito, à Etiópia, ao Chade e ao Sudão do Sul.

Não se trata de uma guerra civil. É uma guerra entre dois generais pelo poder e pelo controle de recursos do país: o chefe do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhane, e seu número dois, Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como “Hemedti”, que lidera as milícias das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

Al-Burhane dirige um exército regular que se beneficia de recursos do Estado e governa o país desde o golpe de outubro de 2021, que pôs fim ao governo dito de “transição”, saído da revolta popular de 2019. Daglo (Hemedti) foi o seu segundo durante o golpe e lidera as RSF, uma milícia numerosa e bem armada.

O grupo de Hemedti é proveniente da milícia Janjaweed, que cometeu diversas atrocidades durante o conflito na região de Darfur. As RSF foram financiadas pela União Europeia para impedir à força as migrações em direção à Líbia. Hemedti, seu chefe, controla minas auríferas e o comércio do ouro sudanês. Essa situação de dois exércitos é herança do regime do ditador deposto Omar al-Bashir.

Ingerências estrangeiras
Houve três tentativas de cessar-fogo, que foram pouco respeitadas. Os Estados Unidos, o Reino Unido e o Canadá, entre outros países, fecharam suas embaixadas.

As potências, assim como a ONU e a União Africana, fizeram o possível, até as vésperas dos combates, para legitimar os generais diante das forças civis sudanesas, que os rejeitam. O Sudão, como todo o Leste africano, é objeto de cobiças, com situações contraditórias de ingerências estrangeiras que provocam a sua desagregação.

O controle de minas de ouro por parte de Hemedti é favorável aos Emirados Árabes Unidos, principal comprador do ouro sudanês, assim como ao grupo Wagner (organização paramilitar de origem russa – NdT). O governo da Rússia, entretanto, mantém ligações com os dois generais. O marechal Sissi, ditador do Egito, é aliado de Al-Burhane. O governo russo discute com Al-Burhane há vários anos a construção de uma base naval no Mar Vermelho, o que contraria os interesses dos EUA.

Em Cartum, nas condições de guerra brutal, os comitês de resistência – que foram os principais mobilizadores contra o golpe de Estado dos dois generais em 2021 – coordenam a evacuação de civis sitiados e fornecem abrigos às pessoas deslocadas de suas casas. Cerca de 70% dos hospitais nas zonas de combate estão fora de serviço, segundo o Sindicato dos Médicos. Apesar disso, os comitês tentam mobilizar médicos, enfermeiros e engenheiros, fornecendo-lhes combustível e eletricidade para que possam cuidar dos feridos. Mas há falta de material e de profissionais de saúde.

Os comitês de resistência buscam atuar em meio ao caos para difundir mensagens antiguerra. Eles exortam as comunidades a não dar apoio nem ao Exército nem às RSF e convocam as pessoas a se juntarem a suas ações para tentar salvar vidas.

Samy Hayon
(extrato de matérias publicadas no jornal “Informações Operárias”, do Partido Operário Independente da França)

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