Ameaça de demissões na Mercedes

A fábrica de caminhões e chassis da Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo anunciou a intenção de demitir 3600 funcionários. Em assembleia dia 8 de setembro, com o pátio lotado, os trabalhadores votaram unânimes por paralisação até dia 12 com instalação de negociação. Chamou a atenção na fala do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, uma posição recuada antes mesmo de começar o processo: “Pelo fato de ele ser novo [presidente da fábrica], precisamos ensinar algumas coisas […] mostrar que negociação se faz em torno de uma mesa. Muitas vezes não vai prevalecer tudo que o sindicato quer, mas também não tudo o que a empresa quer”. Até o fechamento dessa edição não havia notícias sobre a negociação.

Veículo elétrico e reestruturação
Está em curso no mundo a reestruturação das montadoras para fabricar veículos elétricos, que utilizam 40% menos peças e necessitam 25% menos horas de trabalho na produção. Milhares de demissões já estão ocorrendo. No Brasil, recentemente, já houve fechamento de fábricas e/ou demissões na Ford, Mercedes automóveis, Toyota e Caoa Cherry.

No pacote vem o discurso da ecologia. Mas o carro elétrico não tem nada de ecológico: a sua industrialização consome de 3 a 4 vezes mais energia do que a do carro convencional, e a extração de metais pesados para as baterias deve explodir em pouco tempo. Além disso, é uma ameaça à soberania de várias nações: reservas de cobalto no Congo e de lítio na Argentina, Bolívia e Chile, por exemplo, já assanham os exploradores imperialistas.

É o engodo da dita “transição energética”, para preservar os lucros dos grandes capitalistas, à custa do desemprego. Mas para ser posta em prática, é preciso vincular as direções da classe trabalhadora – entre elas as sindicais – em torno de uma pretensa responsabilidade climática de todos. O problema aparece no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Em visita de Lula à Volks em 16 de agosto, o dirigente sindical Wellington Damasceno disse: “[defendemos] produzir aqui carro híbrido e elétrico, mas não vemos do governo nenhuma sinalização.” E na assembleia da Mercedes o também dirigente Aroaldo da Silva declarou: “A direção apresenta um cenário em que a empresa não tem dado o lucro esperado […] a cada momento negociamos o futuro dessa fábrica. É um desafio […] como o governo querer importar 3.500 ônibus elétricos e não termos regra para o regime automotivo”. Ao contrário de uma linha firme em defesa dos empregos, prevalece a política de negociar com os patrões a partir das exigências deles: o problema não é ser contra ou a favor do carro elétrico, mas negociar demissão em nome desse.

“Nenhum governo faz nada”
“É preciso fazer algo” disse um trabalhador durante uma panfletagem com material de campanha de Lili a deputada federal na Mercedes dia 16 de setembro. “Eles vão terceirizando, pra dividir os trabalhadores, mas nós seguimos lutando com o sindicato, o que é fundamental pra mobilizar agora. Mas tem que ter ajuda de cima… nenhum governo faz nada! Eu vou votar no Lula, a maioria aqui vai. Tem que ter um jeito de impedir isso”. Ele tem razão: é necessário que o sindicato mobilize de imediato para impedir as demissões e que, com Lula eleito, haja uma política de recuperação e proteção do parque industrial e uma medida de emergência que proteja os empregos em seu governo.

Tiago Maciel

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