Morte de Gorbachev: ópera de louvor… do “ocidente”

A reação da grande mídia e dos chefes de Estado frente à morte de Michail Gorbachev traz a imagem de um grande democrata, ganhador inclusive do Prêmio Nobel da Paz.

A realidade é muito diferente disso. Gorbachev fez toda a sua carreira no aparato do PC da União Soviética (PCUS), sendo por décadas de seu comitê central e depois do birô político. Foi lá protegido por um de seus membros, o poderoso chefe da KGB na época, Yuri Andropov (que sucedera Brejnev na chefia do PCUS).

Alega-se que Gorbachev, ao tornar-se o secretário-geral do PCUS, intencionava tornar a URSS democrática. Nada mais longe da verdade. Ele sempre procurou preservar uma URSS sob a mão de ferro do Kremlin – e falhou.

A política da burocracia stalinista, da qual ele era parte integrante, levou à desintegração do país. Sob tal burocracia, a economia soviética foi levada à estagnação: queda na produção agrícola, grande desequilíbrio na produção industrial. A isso se somava a corrida armamentista, imposta pelo imperialismo dos EUA. O orçamento militar representava 20% do PIB em 1985 (contra 8% nos EUA). Ambos os fatores resultaram no colapso do país.

Perestroika visava abrir a URSS ao capitalismo
Gorbachev lançara dois slogans: glasnost (transparência) e perestroika (reconstrução). O primeiro daria alguma liberdade a autores e publicações. Com a perestroika, ele tentou infundir na economia soviética mecanismos de mercado capitalistas. O que só agravou a escassez de bens de consumo e fez explodir as desigualdades sociais, causando crescente descontentamento na população.

Para implementar o “livre mercado”, em 1990, o primeiro-ministro Ryzhkov anunciava que “o preço médio dos alimentos precisa dobrar”. O quilo da carne passaria de 1,81 rublos para 5,50 rublos; tecidos e roupas aumentariam em 30% a 50% e calçados em 35%”. Mais de 43 milhões de soviéticos viviam com menos de 75 rublos por mês – o que levou a uma onda de fome.

Em 11 de julho de 1990, três milhões de mineiros entraram em greve em Donbass e Kouzbass. Gorbachev acusou os grevistas de quererem “desestabilizar a situação”. A essas mobilizações operárias somaram-se o surgimento de questões nacionais nas repúblicas oprimidas pelo grande nacionalismo russo da burocracia stalinista.

Ao mesmo tempo, Gorbachev negociava com o presidente Reagan (EUA) uma distensão nuclear. Em 1989, ele aceitou a reunificação na Alemanha em troca de uma promessa de Reagan da não expansão da Otan ao Leste Europeu. Após uma ridícula tentativa de golpe, Gorbachev se vê expulso: os presidentes da Rússia, Yeltsin, da Bielorrússia e da Ucrânia assinaram um acordo para desmembrar a URSS. Dentro de semanas, todas as demais repúblicas proclamaram independência.

Partidários juramentados do “socialismo real” até a véspera, os membros do birô político se refugiaram cada um em sua república de origem, transmutando-se em ultra-nacionalistas, Aliev, por exemplo, tornou-se presidente do Azerbaijão, sendo sucedido após sua morte por seu filho, que até hoje governa o país. É também o caso de Shevardnadze, ministro das Relações Exteriores de Gorbachev que, em nome da URSS, aprovou a guerra (capitaneada pelo imperialismo norte-americano) contra o povo iraquiano em 1991. Tornou-se Presidente da Geórgia.

Todas as cúpulas do aparato do PCUS começaram a vender e saquear essas repúblicas em nome do capital internacional e por conta própria, roubando e se apropriando das riquezas nacionais. É essa burocracia decadente e corrupta que desenvolveu a máfia oligárquica em enormes proporções.

L.G publicado em “Informações Operárias” n. 722 da França

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