A coligação “O povo feliz de novo” do PT, PCdoB e PROS, inscreveu seu programa de governo no último dia 15, junto com o nome de Lula para presidente.
Dias antes, se divulgou o número de 13 milhões de desempregados, expressão da degradação social provocada pelo golpe, o que o programa do governo Lula quer enfrentar, “em seus primeiros meses de mandato, propondo um Plano Emergencial de Emprego, visando elevar a renda, ampliar o crédito e gerar novas oportunidades de trabalho. A grande prioridade será a juventude. Entre as ações, destacam-se:
- Retomada imediata das obras inacabadas em todo o país;
- Retomada dos investimentos da Petrobras;
- Retomada do Programa Minha Casa Minha Vida”.
Esse é um bom começo, mas que pede medidas complementares para se sustentar, reverter o desastre do golpe e abrir caminho às reformas estruturais que emancipem a nação da opressão imperialista que pesa sobre o continente.
Neste sentido, o Plano Lula, acordado com o PCdoB, traz um ponto de apoio fundamental na convocação de uma Constituinte (veja abaixo) que pode fazer avançar muito o processo de emancipação. Pode, inclusive, aprofundá-lo e corrigir insuficiências do programa.
Limitações
O Plano Lula, por exemplo, não integra a bandeira histórica do movimento sindical, e do próprio PT, da jornada semanal de 40 horas de trabalho. É vago ao falar de “avançar no debate sobre a militarização das polícias”, quando se pede a desmilitarização nos movimentos populares e na juventude.
O programa é muito tímido, quando propõe “adotar regulações que controlem a entrada de capital especulativo de curto prazo”, apenas, que certamente são insuficientes para garantir uma taxa de câmbio favorável à produção nacional e coerente com a bandeira de “reindustrialização nacional” do Plano.
O programa é ambíguo sobre a Previdência, ao propor “combater privilégios previdenciários incompatíveis com a realidade da classe trabalhadora brasileira. Ademais, o governo buscará a convergência entre os regimes próprios da União, dos Estados, do DF e dos Municípios com o regime geral”. Quem são os privilegiados? Essa “convergência”, elevará os direitos dos trabalhadores do setor privado ou reduzirá os do setor público?
Em outros momentos, o Plano chega a ser contraditório, como quando propõe “suspender a política de privatizações”, e mais à frente, na infraestrutura, quer “expandir a parceria com o setor privado por meio de concessões e outras parcerias público-privadas” – afinal, PPPs e concessões são formas de privatização.
Pontos de apoio
O programa, contudo, traz vários pontos de apoio para o povo trabalhador que resiste e quer reverter o golpe, pontos que devem ser agarrados pelas organizações populares e fertilizar a luta unitária.
O Plano Lula propõe claramente “revogar as medidas de caráter inconstitucional, antinacional ou antipopular editadas pelo atual governo ilegítimo. Lideram a fila a Emenda Constitucional nº 95, que impõe uma ortodoxia fiscal permanente e um teto declinante dos gastos públicos, a chamada Reforma Trabalhista que revogou direitos essenciais dos trabalhadores, as mudanças no marco regulatório do Pré-sal e a reforma do ensino médio”.
O programa também prescreve a “renegociação das dívidas e da situação de guerra fiscal entre estados e municípios. Para isso, propõe-se o abatimento da dívida dos estados em conformidade com a aplicação dos atuais indexadores da dívida para o saldo devedor”, o que aliviará a gravíssima situação dos Estados, enquanto uma reforma tributária se discute.
Vários destes pontos incluem emendas constitucionais ou dependem de uma nova correlação de forças parlamentar, e acabarão confluindo para o “processo Constituinte” proposto. Por isso, é importante o compromisso do Plano Lula com “ampla reforma política com o financiamento público exclusivo das campanhas, fidelidade partidária, sistema eleitoral proporcional e adoção do voto em lista preordenada”. Afinal, disso depende a “Constituinte soberana e unicameral, eleita para este fim nos moldes da reforma política que preconizamos” (abaixo).
É só a quente, no calor dos embates nas ruas e nas instituições, que o programa pode ser desenvolvido, ultrapassado numa direção ou outra, como qualquer programa. Aí, são as massas populares com suas organizações que, apoiadas no governo Lula e seu programa, darão a última palavra.
João Alfredo Luna
“O Brasil Precisa de um Novo Processo Constituinte
A Soberania Popular em Grau Máximo para a RefundaçãoDemocrática e o Desenvolvimento do País:
O golpe aprofundou a crise de representação política e agravou o desequilíbrio no sistema de pesos e contrapesos das instituições republicanas. A refundação democrática liderada por Lula implicará mudanças estruturais do Estado e da sociedade para reestabelecer o equilíbrio entre os Poderes da República e assegurar a retomada do desenvolvimento, a garantia de direitos e as transformações necessárias ao país.
Para assegurar as conquistas democráticas inscritas na Constituição de 1988, as reformas estruturais indicadas neste Plano e a reforma das Instituições, é necessário um novo Processo Constituinte. Para tanto, construiremos as condições de sustentação social para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, livre, democrática, soberana e unicameral, eleita para este fim nos moldes da reforma política que preconizamos.
O governo do Presidente Lula participará, logo após a posse, da elaboração de um amplo roteiro de debates sobre os grandes temas nacionais e sobre o formato da Constituinte” (grifos JAL)