Argélia: eleições mostraram a rejeição ao regime

Os meios de comunicação minimizaram o resultado destas eleições. Mas o novo Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune (que tinha sido Primeiro-ministro, durante 3 meses, em meados de 2017), foi eleito no primeiro turno das eleições presidenciais com o voto de apenas 23% dos eleitores inscritos (1).

O Secretariado permanente do Partido dos Trabalhadores (PT) da Argélia – Cuja Secretária-geral é Luisa Hanune, condenada por um Tribunal militar a 15 anos de prisão – adotou, no dia 14 de Dezembro, o seguinte balanço desse processo eleitoral:

“Quem pode acreditar que as eleições de 12/12/2019 podem resolver as questões fundamentais levantadas pelos milhões de argelinos nos últimos dez meses?

Quem pode acreditar que estas eleições permitam resolver os muitos problemas levantados pela revolução popular, em particular o problema do desemprego, da pobreza, da precariedade, da «hogra» (rejeição do Regime), dos professores, da Saúde, da soberania popular sobre a riqueza nacional, ou ainda das liberdades(…)?

Para o Secretariado do PT, o povo argelino não se enganou quando desceu às ruas aos milhões, em todo o país, no dia seguinte ao ato eleitoral, mostrando a sua rejeição às eleições e às soluções para remendar o Regime, e reafirmando a sua principal exigência de eliminação do Regime, dos seus símbolos, das suas instituições, das suas práticas…

O Partido dos Trabalhadores considera que a única solução que pode responder favoravelmente às aspirações da grande maioria do povo argelino é dar-lhe voz, através de uma Assembleia Nacional Constituinte soberana, que irá definir a forma e o conteúdo das instituições a criar, afirmar a soberania popular sobre os hidrocarbonetos e combater qualquer ingerência estrangeira.

O PT considera que nenhuma solução é possível sem a libertação imediata e incondicional de Lakhdar Bouregaa, Louisa Hanoune, Karim Tabbou e de todo(a)s o(a)s prisioneiro(a)s por delito de opinião.

O PT condena a repressão de manifestantes em várias partes do país, nomeadamente em Oran e em vários aldeamentos (wilayas) vizinhos, durante as manifestações da 43ª sexta-feira da Revolução.

O PT faz um apelo aos trabalhadores e aos jovens para que se juntem às suas fileiras, para travar juntos as muitas batalhas políticas visando satisfazer as aspirações e exigências da grande maioria.

Argel, 14 de Dezembro de 2019”

Daí, a historiadora Karima Dirèche, especialista em Magrebe contemporâneo, ter tirado a seguinte conclusão: “Existe a impressão de duas Argélias, que vivem em paralelo: uma classe dirigente que organiza eleições e se auto-congratula e uma população que ocupa as ruas desde Fevereiro.”

(1) De fato, segundo os resultados oficiais, o candidato eleito teve 58,15% dos votos, mas a taxa de participação situou-se nos 39,83%, a mais baixa da história dos escrutínios presidenciais “pluralistas” na Argélia, notando que desta vez só concorreram candidatos ligados ao Regime.

Do site do POUS (Partido operário da Unidade Socialista, de Portugal)

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