Começou a cobrança

O governo Lula completou nove meses. Foi eleito para reconstruir e transformar o país. É a expectativa do povo que votou e depois garantiu a posse.

Certamente, não é fácil reconstruir o que foi destruído pelos anos de golpe, desde Temer, passando por Bolsonaro, e ir além, corresponder aos anseios da população. Mas é preciso cobrar que o governo caminhe nesse sentido.

João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do MST, explicou os anseios dos trabalhadores do campo em entrevista para a Folha de São Paulo: “até agora o governo não comprou um quilo de alimento da agricultura familiar dentro do Programa de Aquisição de Alimentos. As famílias se preparam para isso, plantam com essa expectativa. A insatisfação é grande”.

Ele também reclamou que o governo não avançou um milímetro na reforma agrária: “Minha preocupação é que em algum momento as famílias comecem a fazer uma reclamação nacional, indo para a estrada, parando rodovias, por exemplo. Não está prevista no momento uma jornada de ocupações, mas já há uma reclamação de que precisaremos de cinco mandatos do Lula para concluir o processo de reforma agrária” afirmou.

O sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e região (Força Sindical), um ano depois do acidente que matou nove trabalhadores na empresa Multiteiner, denunciou, em carta aberta a Lula, a ineficácia dos órgãos de fiscalização e a impunidade, exigindo medidas para solucionar a situação. “Precisamos buscar a garantia de não repetição deste tipo de acidente de trabalho, seja por parte da Multiteiner, seja por parte de qualquer outra empresa do nosso país, sendo relevante, nesse sentido, o endurecimento da fiscalização trabalhista, previdenciária, ambiental e em outros âmbitos, por parte do Estado, junto às empresas” diz o documento.

São dois exemplos, entre tantos outros, que mostram que há disposição dos trabalhadores para cobrar as mudanças que o governo precisa fazer.

Até aqui, é um fato, muitas coisas que impactam para melhor as condições de vida do povo foram realizadas. Houve aumento real do salário mínimo, mesmo tímido. Empresas foram retiradas da lista de privatizações, o governo relançou programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e outros. Reajustou em 9% o salário de servidores federais, anunciou a isenção do Imposto de renda para quem ganha até R$2600,00, para ficar em alguns exemplos.

Mas a degradação das condições de vida dos anos anteriores continua pesando. Os anos de golpe aprofundaram a desigualdade e trouxeram mudanças estruturais, que requerem velocidade e alterações profundas, o que exige se enfrentar – não conviver – com os interesses dos bolsonaristas, do centrão, do mercado, enfim, da classe dominante.

É verdade que a situação é complexa e as mudanças são difíceis.

O Congresso é o mais reacionário da história e tem um Imperador, Arthur Lira, que manda e desmanda, como se vê, por exemplo, na questão mais recente do Marco Temporal.
Os militares continuam tutelando a República. O bolsonarismo continua infiltrado no aparato de Estado.

Mas o melhor caminho para o governo Lula enfrentar essa situação é justamente se apoiar nos trabalhadores que não pouparão esforços para defender os seus interesses.
É o que demonstra a disposição de luta dos trabalhadores da Sabesp, dos Trens e Metrô, que, convocados pelos seus sindicatos, decidiram ir à greve no dia 3 de outubro para enfrentar o privatista e bolsonarista Tarcísio.

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