Crise na ciência brasileira

Em agosto o presidente do CNPq (agência de fomento à ciência do governo federal) anunciou que o dinheiro “acabou” e não tinha mais recursos para pagar as cerca de 40 mil bolsas de pesquisa para os pós­-graduandos em 2017. Os estudantes de pós-graduação se mobilizaram junto com a ANPG face a essa ame­aça. Entidades científicas como a Sociedade Brasileira para o Progres­so da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciência (ABC) também pressionaram o governo pelos R$ 570 milhões necessários para pagar as bolsas neste ano.

Depois da mobilização os golpistas liberaram 100 milhões e prometeram o resto do dinheiro para depois da aprovação da ampliação do déficit fiscal no congresso, agora em R$ 159 bilhões.

Entretanto, a crise na ciência bra­sileira está longe de acabar. Temer anunciou a proposta de orçamento para 2018 com 50% menos recur­sos para a Ciência e Tecnologia. Na prática, isto implica na extinção de milhares de bolsas de pesquisa do CNPq e a paralisação de importantes pesquisas. Um dos projetos que estão sob ameaça é a construção do Sirius (ver abaixo), primeira fonte de luz síncrotron que seria instalada no Brasil, um apare­lho científico sofisticado fundamen­tal para importantes pesquisas nas áreas de Energia e Saúde.

Isto tudo é consequência da aplica­ção do “Novo Regime Fiscal” (antiga PEC 55) aprovado pelo congresso podre em novembro de 2016, logo após consumar o golpe contra Dil­ma. Por essa lei, os gastos do governo ficarão congelados pelos próximos 20 anos! É impossível esperar qual­quer avanço na ciência brasileira com essa lei em vigor.

Por isso, com razão a SBPC clama pela revogação desta Emenda Cons­titucional, como afirma em Moção aprovada em sua Assembleia Geral Ordinária em 20 de julho de 2017: “ Cortar em conhecimento foi uma op­ção deste governo e de todos aqueles que votaram pela Emenda Constitu­cional (…) ao invés de aderirmos à escolha sobre o que cortar – se Edu­cação, Saúde ou Ciência e Tecnologia – a solução deve ser revogar a EC 95 imediatamente.”

No final de outubro (27 a 29) se realizará o Conselho Nacional de Associações de Pós-Graduandos, este é o momento dos pós-graduandos entrarem nessa luta e chamar suas entidades à assumir seu lugar.

Cristiano Junta


O acelerador de partículas

A falta de verba que assola as pesquisas financiadas pelo poder público federal chegou no Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM) e ameaça a construção do acelerador de partícu­lar Sirius, em Campinas, cujas obras estão originalmente previstas para terminar em junho de 2018. Se não receber mais recursos, o CNPEM terá de paralisar as atividades em dois meses. Ou demitir todo mundo e fechar as portas, pelas palavras do diretor, o que seria possível porque é uma Organização Social.

O Centro abriga quatro Labora­tórios Nacionais com tecnologia de ponta que atendem a toda comuni­dade científica. O acelerador Sirius é um projeto 100% brasileiro, com 85% dos materiais produzidos no país. Será uma das melhores fontes de luz síncontron do mundo, possi­bilitando estudos, por exemplo, de estruturas moleculares. As informa­ções são do UOL.

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