Defesa, Itamaraty, que governo é esse?

José Múcio, ministro da Defesa, falando para uma plateia de industriais reclamou das barreiras “ideológicas” que, segundo ele, levaram a suspender a compra pelo Exército de 1 bilhão em obuseiros israelenses. Amorim, assessor internacional de Lula, defendeu a suspensão – não anulação – da compra vinda de um país beligerante. Lula disse que Múcio “não abalou nada”.

Mas o fato é que Múcio, falando em nome dos generais como sempre, desautorizou publicamente o presidente Lula. Afinal, na democracia a Defesa serve para amparar as decisões do chefe do Estado, não para disputar a sua política externa. A menos que vivamos sob tutela militar!

Em paralelo, no mesmo dia 7, das jornadas de protesto internacionais contra um ano da guerra de Israel, o Ministério de Relações Exteriores de Mauro Vieira publicou uma nota que “registra profundo pesar” a tomada de um refém e a morte de três cidadãos brasileiros em Israel “por terroristas a partir da Faixa de Gaza” e pede a “libertação imediata de todos os reféns” do Hamas.

A asquerosa nota do Itamaraty não fala nada dos 42.757 palestinos assassinados em Gaza e na Cisjordânia, a maioria crianças e mulheres, nem dos milhares de prisioneiros palestinos, torturados e violados. Aliás, só há os “terroristas de Gaza”, a palavra “palestino” não aparece nesta nota fanatizada, que mal disfarça a simpatia pela operação do Estado genocida. Na verdade, a nota contribui com Netanyahu para o apagamento de um povo inteiro, o que Lula havia qualificado de genocídio. Na semana não houve reação oficial, admoestação ou demissão.

Dias depois, instada a se distanciar do Itamaraty, a direção do PT publicou uma nota sobre o dia 7. Ela condena outra vez o genocídio palestino e conclui com um enésimo “apelo à comunidade internacional”. Mas “obrigado, não fumo”, a nota não menciona, sequer remota ou indiretamente, a nota do Itamaraty, como se ela não existisse! Muito menos fala de embargo militar de Israel ou de ruptura de relações diplomáticas. Não serve para nada, sobretudo não ajuda o governo Lula a acertar.

Como se pode ver a direita avança, inclusive dentro do próprio governo de coalizão. E por que seria diferente? Não há contraofensiva oficial, nem mesmo resistência na direção do PT. Nenhum general foi afastado devido ao 8 de janeiro pelo comandante em chefe, Lula, e o STF que posa de valente sequer indiciou algum deles.

A direita avançou no 1º turno das eleições municipais. Por que seria diferente? O PIB dos patrões está bombando sob efeito continuado da reforma da Previdência e da reforma trabalhista que ninguém mexe. A tática genial do PT de ampliar a frente ampla contra a extrema-direita, não deteve as direitas, ao contrário. Elas, confortáveis e sustentadas pelo poder econômico, se apoiaram nos quase 50 bilhões de emendas parlamentares e quase 5 bilhões do Fundão distribuídos pelas cúpulas dos partidos, uma espécie de “piso” para o “caixa dois” e a compra de votos.

Há que disputar palmo a palmo certos segundos turnos, mesmo se eles não vão mudar o quadro de fundo.

Mas pode vir a ser diferente, ainda antes de 2026, se o governo sair do buraco em que se meteu, e propuser uma reforma política e outras reformas populares que mobilizem os oprimidos e explorados para virar o jogo.

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