Desde fevereiro, um mês após o crime de Brumadinho, Barão de Cocais (32 mil habitantes) está em pânico. A mina do Gongo Soco, parada desde 2016, pode desabar e chegar ao centro da cidade, atingindo 6 mil pessoas.
A pedido de associações de moradores, vereadores e prefeito, deputados das Comissões de Direitos Humanos e do Trabalho da Assembleia Legislativa (ALMG) visitaram a cidade. O jornal O Trabalho estava presente.
Os meios-fios das calçadas do centro pintados de laranja avisam aonde a lama chegará a qualquer momento. Placas em vários pontos indicam a “rota de fuga”.
Comunidades com 400 pessoas foram desalojadas e colocadas em moradias alugadas pela Vale. Muitos estão aflitos, recebem 450 reais de ajuda, mais 80 reais por membro da família; não podem retirar seus pertences e nem fazer inventário para uma futura indenização. Dispersos em cidades diferentes, sequer podem discutir coletivamente.
Algumas comunidades foram saqueadas, sem providências duradouras. Famílias não desalojadas organizaram vigílias noturnas e há meses esperam a lama. Problemas de saúde mental e cardíacos aumentaram muito, dizem os moradores e trabalhadores da saúde. Funcionários da Vale de minas próximas, se revezam na segurança, em locais aonde correm risco.
Seis mil servidores não sabem como receberão salário, pois os bancos saíram da cidade. A Vale prometeu ônibus para transportar, mas não se sabe como será, além da confusão nos bancos das cidades vizinhas. Pequenos comerciantes temem por seu negócio, vários estão endividados e ameaçados de execução judicial pelos bancos. O Fórum fechou e o promotor foi transferido!
Como se não bastasse, a juíza local autorizou a Vale entrar em qualquer propriedade e fazer o serviço que quiser, sob pena de multas de 10 a 100 mil reais a quem resistir. Há relatos de pequenos proprietários pressionados a vender o que tem (por que, se estão ameaçadas pela lama?). Estradas são fechadas e abertas pela Vale, sem explicações. Com a Defesa Civil sucateada, a Vale forneceu 20 carros para operar – ela comanda o show de horrores e o Estado está ausente!
“Não há saída sem reestatização”
Os deputados da ALMG se reuniram com moradores e representantes para discutir iniciativas. Eles exigem da Vale explicações das medidas tomadas, com soluções definitivas, tentando se antecipar ao que ocorreu em Mariana (2015) e Brumadinho. Mas o fato é que nada foi resolvido nem em Mariana. Tanto é que no mesmo dia, famílias de lá ocuparam a Fundação Renova, que cuida do ressarcimento às vítimas, exigindo indenizações para reconstruir suas vidas.
O deputado Betão (PT) avalia que “além de providências da Vale, é preciso exigir que o Estado esteja presente. Não é possível ouvir e ver tudo o que vimos, e perceber que nestes 4 meses não houve uma única ação do Estado. O mínimo que o governo Zema (Novo) deve fazer, é se instalar na cidade para dar suporte ao povo e exigir as providências. A Vale, desde a sua privatização a preço de banana, extrai o minério que quer, manda o que lucra para fora do Brasil, e não está obrigada a nenhuma contrapartida social aonde atua, a única coisa que deixa é o caos! Não podemos achar isso normal. Junto com o deputado federal Rogério Correia, tenho levantado a bandeira da reestatização, convencido que é o único caminho. Vamos buscar convencer a todos dessa luta. É preciso dialogar com o povo, os sindicatos e entidades, Câmaras e prefeitos. Penso que a reestatização da Vale interessa a todos. Só não interessa ao capital internacional!”.
Sumara Ribeiro