Com apenas 60 anos, completados em 30 de outubro, morreu o extraordinário jogador de futebol e um “esquerdista de pé, de fé e de cérebro”, como ele próprio dizia, Diego Maradona.
Os que o viram jogar jamais esquecerão os momentos de pura arte, espontaneidade e garra que marcaram a sua carreira no esporte mais popular do planeta. Fora de campo, Maradona nunca renegou a sua origem pobre numa favela da periferia de Buenos Aires, Villa Fiorito, onde o Dieguito já fazia das suas.
Sem ser um militante político organizado, Diego aproveitou os holofotes de sua fama mundial para várias vezes colocar-se ao lado dos oprimidos contra os opressores, com a consciência de que a pobreza da qual conseguira escapar graças ao futebol, não era algo natural, era responsabilidade de um sistema injusto e continuava açoitando a grande maioria dos povos do mundo.
Uma imagem de Maradona, tão presente como a de seus gols e jogadas mágicas, é a da sua entusiasmada participação no “enterro” da ALCA em Mar del Plata em 2005, ao lado de Nestor Kirchner, Lula, Hugo Chávez e milhares de manifestantes que comemoravam a derrota do projeto imperialista de George W. Bush de anexar toda a América Latina a uma zona de livre comércio com os EUA.
Diego tinha um sentimento antiimperialista genuíno, que o levava a orgulhar-se de ser compatriota do Chê Guevara, a ser amigo de Fidel Castro, defensor de Lula, Evo e outros líderes hostilizados pelas elites submetidas aos “gringos” em nosso continente.
Milhares de jovens argentinos de sua geração perderam a vida ou ficaram mutilados pela máquina de guerra britânica na Guerra das Malvinas em 1982. Imagine-se o que sentiram os “hermanos” com os gols de Maradona – o de mão e o de placa – contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986!
O mesmo vale para o povão de Nápoles, discriminado, tal como seus vizinhos do sul da Itália, como “beduínos” pela elite do norte, ao verem o seu time ser duas vezes campeão contra as equipes de Turim e Milão, graças ao gênio de Maradona.
O negócio futebol, com os bilhões que movimenta, é cheio de tentações e Diego nunca foi “santo” ou um atleta exemplar. Tal como Garrincha, como lembrou Juca Kfouri, nunca poderia ter sido tenista, nadador ou jogador de vôlei ou basquete. É impossível qualquer comparação entre o que ele foi no futebol com outros ídolos como Pelé ou Messi (para não falar de Zico ou Rivelino, que uma imprensa “bairrista” chegou a comparar com Diego).
Ele foi um caso único, um jogador que apontava o dedo acusador contra a cúpula da FIFA presidida por Havelange, tanto no penalty inexistente que deu o título mundial de 1990 à Alemanha, como no episódio de sua suspensão da Copa de 1994 por um doping mal explicado, com a cumplicidade da máfia que dirigia a AFA (Associação de Futebol Argentino) então.
Maradona fará falta num mundo em crise, cuja falência do sistema imperialista se tenta maquiar com doses maciças de mediocridade e conformismo para tentar anestesiar a resistência dos povos. Diego foi todo o contrário do medíocre e conformista, foi um homem de nosso tempo que tomou partido contra os poderosos. Diego Armando Maradona, presente!
Julio Turra