Ditadura militar: repressão aos negros, trabalhadores e a “O Trabalho”

Em matéria publicada pelo UOL neste dia 31 de março de 2019, o jornalista Carlos Madeiro revela a repressão ao movimento negro no Brasil durante a ditadura militar:

“A ditadura militar instaurada há exatos 55 anos no Brasil espionou, perseguiu e minou a luta de movimentos raciais no Brasil na segunda metade da década de 1970 e início de 1980. Documentos confidenciais obtidos pelo UOL junto ao Arquivo Nacional revelam que militares se infiltraram nos grupos, ficharam os líderes e tentaram a todo custo impedir que a luta dos negros crescesse”

Ainda segundo a matéria “durante o regime, 41 líderes negros morreram ou desapareceram após supostas ações militares, segundo dados da Comissão da Verdade de São Paulo. Há ainda relatos por todo o país de centenas de prisões políticas e casos de tortura envolvendo integrantes de lutas contra o racismo.”

Durante a ditadura, trabalhadores foram perseguidos, torturados e assassinados. Movimentos e jornais foram alvo de monitoramento e perseguição. Este é o caso do Jornal O Trabalho, citado, de acordo com a matéria, em documento do SNI num informe de “propaganda adversa” em 7 de junho de 1981: “Da análise empreendida, verifica-se que o jornal ‘O TRABALHO’, em seu exemplar n° 9 106, de 20 a 26 de maio de 1981, volta a infringir dispositivos que permitem o seu enquadramento legal.”

De fato, o Jornal O Trabalho publicou uma nota sobre as manifestações do 13 de maio daquele ano:

Matéria publicada na edição 106 do Jornal O Trabalho em 1981 (arquivo da redação de O Trabalho)
Matéria publicada na edição 106 do Jornal O Trabalho em 1981 (arquivo da redação de O Trabalho)

Esse não foi o único caso de perseguição a O Trabalho. Duas edições depois o Jornal O Trabalho descobriu e denunciou uma escuta telefônica em sua sucursal no Rio Grande do Sul, encontrada no momento em que membros do jornal faziam uma mudança de sede:

Ataque a O Trabalho denunciado em suas páginas - edição 108 (arquivo da redação)
Ataque a O Trabalho denunciado em suas páginas – edição 108 (arquivo da redação)

Essa não foi a primeira vez que O Trabalho foi alvo do aparato policial. Também não seria a ultima. Menos de um ano antes a sede do jornal havia sido invadida por agentes da Polícia federal, numa operação ilegal que tentou impedir a distribuição da edição n°77 do jornal, cuja capa abre esta matéria e que exigia “punição aos verdadeiros terroristas” incluindo fotos de Figueiredo e outros agentes do regime. Na mesma operação a PF tentava envolver numa farsa a Organização Socialista Internacionalista, atribuindo a esta organização a culpa por atentados à bomba que, na realidade, eram praticados por agentes da própria ditadura militar, grupos de extrema direita e fascistas.

Registro da Invasão a O Trabalho em 1980 - Arquivo da redação
Registro da Invasão a O Trabalho em 1980 – Arquivo da redação

Esse era o “modus operandi” da Ditadura militar, instalada com o golpe de 1964, que o atual presidente Jair Bolsonaro determinou comemorar nos últimos dias. O Trabalho nasceu da luta dos trabalhadores contra a ditadura militar e não se intimidou.

41 anos depois continuamos nossa atividade, de forma ininterrupta, sustentada pela contribuição dos próprios trabalhadores, a serviço da luta do povo trabalhador e oprimido. Neste momento concentramos nossa luta contra o aparato militar judicial instalado no país que prendeu Lula para viabilizar as eleições de Bolsonaro e que pretende liquidar os direitos dos trabalhadores com a reforma da previdência e acabar com a soberania nacional.

capa da edição 78 em 1980
capa da edição 78 em 1980

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