Educação remota: oportunidades para o mercado

Com a destruição programada do direito à educação pública de qualidade

Entre fevereiro e março de 2021, diversas redes municipais e estaduais de ensino anunciaram a retomada das aulas presenciais. Porém, passadas algumas semanas, as condições sanitárias e os recursos humanos, com a alta da Covid-19, se revelaram precários e os governos voltaram ao ensino remoto que vigorou ao longo de 2020.

É flagrante que, enquanto as professoras e professores foram obrigados a trabalhar com a educação remota e as escolas ficaram fechadas, prefeitos e governadores nada fizeram, nem para controlar a pandemia, tampouco para adequar as Unidades Escolares (UEs). Medidas como testagem em massa (RT-PCR) e rastreamento dos casos de contágio, isolamento de contagiados, não foram adotadas. A questão da merenda escolar tampouco foi resolvida. Com a falta de vacinas, não há um calendário concreto estabelecido pelo SUS para a comunidade escolar.

Isso levou a mobilizações e greves, como em São Paulo, com reuniões com as famílias, carreatas, atos presenciais, contra uma reabertura das aulas presenciais sem as mínimas condições sanitárias. Com o repique recente da pandemia, as escolas voltam a ser fechadas.

Há professores e dirigentes de suas entidades sindicais que, mesmo sabendo que o ensino remoto é uma farsa, tratam as “aulas virtuais” como reivindicação da categoria. Trata-se de um equívoco, pois o ensino remoto é um instrumento de destruição do direito à educação pública.

“Uma janela para o mercado”
O Instituto Millenium, um dos que defende as demandas privatistas do mercado para a educação pública, afirma que a pandemia da Covid-19 abriu uma “janela de oportunidades” para antecipar a implementação da educação remota no ensino básico.

De fato, enquanto o MEC gastou apenas 71% das suas verbas de 2020 na educação básica, as crianças e jovens das escolas públicas tiveram o seu direito à educação negado, não só pela falta de acesso à internet, mas também pela inadequação desse meio para a apreensão dos conhecimentos.

O período de pandemia está servindo de “teste” para a instalação da chamada “educação híbrida”, onde as aulas virtuais deixariam de ser um complemento eventual às aulas presenciais, mas ambas fariam parte do processo oficial de ensino, degradando a sua qualidade.

Os professores e professoras, com uma avalanche de tarefas que vão muito além das horas de trabalho presencial nas escolas, foram forçados a comprar equipamentos e a financiar as despesas do trabalho remoto. Os conteúdos são pré-definidos por plataformas virtuais, desqualificando os profissionais em meros monitores. O terreno para a “educação híbrida” com automatização e privatização, com altos lucros para as plataformas digitais e menos “despesas” para os governos, está sendo trilhado.

Assim, mesmo se neste momento as aulas presenciais são impedidas pela aceleração do contágio e a inação dos governos, “ficar no ensino remoto” não pode ser uma reivindicação para quem defende o direito ao ensino público de qualidade, inseparável das aulas presenciais, para a volta das quais, no momento oportuno, devemos levantar as exigências necessárias.

Nelson Galvão

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