Eleições 2020: começando um balanço

Com resultados aquém do esperado, o PT está chamado a tirar as lições das urnas

No primeiro turno destas eleições municipais, o PT teve 100 mil votos a mais que nas eleições municipais de 2016, praticamente uma estagnação. Havia no partido, que tomou a correta decisão de lançar candidatura própria, em particular nas grandes cidades, a expectativa de que pudéssemos avançar. Não foi desta vez. Mas também não foi desta vez que a burguesia conseguiu apagar o PT do mapa, seu objetivo. Não se trata de embelezar os resultados, como pretendem alguns setores do partido, nem de alardear a derrota, como pretendem outros. Uma discussão sobre o balanço começa. E ela deve levar em conta os problemas, como o resultado na capital paulista.

Em São Paulo houve uma marcação cerrada da grande imprensa contra nosso candidato, Jilmar Tatto, o que faz parte da “ordem natural das coisas”, mas também problemas internos. Embalados por disputas internas e pela busca de frentes de esquerda, rebaixando o lugar do PT, setores do partido – o que se expressou de maneira contundente em algumas campanhas proporcionais – não fizeram a campanha para Jilmar, que era pressionado, desde a cúpula, para desistir da candidatura.

Em Recife, o uso do cachimbo entortou a boca. Setores acomodados em cargos ocupados pela política de atrelamento e subordinação ao PSB, fizeram coro aos ataques à nossa candidata Marília.

Em João Pessoa (PB), teve a abrupta decisão da Direção Nacional de deixar a ver navios, na undécima hora, o candidato próprio escolhido unanimemente pelo PT local.
São fatos que vão esgarçando o PT.

As alianças que violentaram as decisões do 7º Congresso do PT, com a chancela da Comissão Executiva Nacional, levaram a abrir mão de candidatura própria para apoiar candidatos identificados com a base bolsonarista, como o prefeito de Belford Roxo (RJ) ou a atual prefeita do PR em Francisco Morato, na grande São Paulo.

No Rio de Janeiro, depois da vigorosa campanha da Benedita, que reanimou o partido, vem o desastroso apoio a Paes do DEM do Maia.

É preciso discutir, mas é preciso levar em conta também outros elementos.

Em 2016 o PT foi a segundo turno em sete cidades (mais de 200 mil eleitores). Nestas, foi em 15, conquistando mais de um milhão de votos em relação a 2016 (ver gráfico). Isto deve ser levado em conta não para mitigar problemas, mas para destacar ponto de apoio para avançar. Com mais presença nas grandes cidades, o PT se reaproxima dos locais onde a classe trabalhadora se concentra e é mais organizada.

Das 15 cidades que disputou no segundo turno, o PT ganhou em quatro: Contagem e Juiz de Fora no estado de Minas Gerais. No ABC paulista, o que não é pouca coisa, em Diadema e Mauá. São cidades operárias, ambas já governadas pelo PT, Diadema tendo sido a primeira conquista no estado de São Paulo.

O balanço deve ser feito. E deve tirar, inclusive, as conclusões da grande parcela da população que, se abstendo, votando branco ou nulo, revela a crise de representação que se aprofunda.

Misa Boito

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