Eleições chilenas: reatar com demandas de 2019 e derrotar Kast

No primeiro turno das eleições presidenciais neste 21 de novembro, com 52% de abstenção, o candidato pinochetista José Antonio Kast, sai em primeiro lugar com 27,99% dos votos. Ele vai disputar o segundo turno, em 19 de dezembro, com Gabriel Boric (25,67% dos votos) do pacto Apruebo Dignidad (coalizão da Frente Ampla com o Partido Comunista).

No Senado a direita obtém maioria e na Câmara conquista 74 das 155 cadeiras. Um cenário onde a direita fica praticamente empatada com a oposição, o que não se via desde o fim da ditadura em 1990.

Este resultado do primeiro turno está em contradição com todas as votações ocorridas depois da revolta de 18 de outubro de 2019, na qual o povo expressou seu forte rechaço ao modelo chileno.

No plebiscito de outubro 2020, o Apruebo (sim à nova Constituição) conquistou 78% dos votos, contra a direita. Na eleição para os deputados constituintes (maio 2021) a direita não logrou fazer dois terços.

A grande derrotada nessas eleições foi a Concertación (Democracia Cristã e Partido Socialista) cuja candidata, Yasna Provoste, ficou em quinto lugar com 11,70% dos votos. Neste caso, confirmando a ampla rejeição manifestada na revolta à política da Concertación que manteve, quando no governo, a herança de Pinochet.

Em campanha, Kast desenvolveu um discurso de restituição da ordem com um programa ultra conservador que promete militarizar a zona do Wallmapu (Mapuche) e deportar migrantes ilegais, em uma situação de crescimento da imigração nos últimos anos. O descontrole da população imigrante no norte do país, somado ao desemprego e à crise sanitária, foi bastante utilizado pela direita.

Reatar com as demandas da revolta
Mesmo se os movimentos sociais ainda não tenham se pronunciado sobre o segundo turno, é evidente que o que está em jogo é determinante para os interesses dos trabalhadores e os setores populares.

Na questão da nova Constituição, uma exigência da revolta de outubro, Kast e a direita trabalham pelo rechaço ao texto que sairá da Convenção Constitucional e será plebiscitado em maio de 2022. Isto é o que aposta a direita, validar o rechaço, com o que a Constituição espúria de Pinochet seria legitimada.

Derrotar Kast em 19 de dezembro é uma questão que diz respeito a toda maioria oprimida.

Para isso Boric deveria concentrar sua campanha nestas semanas reatando com as demandas que explodiram no país desde outubro de 2019. O que é o contrário de dar garantias de segurança jurídica ao mundo empresarial para inversão de capital nacional e estrangeiro, dar garantia aos tratados de livre comércio. Isto é a repetição da política da ex Concertación depois de Pinochet, modelo contra o qual os trabalhadores e as massas populares se levantaram.

Ainda é tempo! Boric deve se apoiar nos que fizeram possível o 18 de outubro de 2019. E eles disseram claro o que querem: aposentadoria digna, fim das AFPs (fundo privado de pensão); saúde e educação públicas, agua, moradia, etc.

O Chile enfrentará em três semanas um cenário complexo. A direita alcançar a presidência é totalmente contraditório com a intensidade da luta aberta em 18 de outubro e a forte greve de 12 de novembro, em 2019, que esteve a ponto de fazer cair o regime e o governo Piñera. A ausência de uma direção política arrisca a uma situação na qual uma luta tão radical e intensa possa ser diluída em benefício dos setores dominantes. É nas exigências dessa luta e nos que as levantaram que Boric deve se apoiar para derrotar Kast.

Ana Carolina

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