Eleições no Equador: “Revolução Cidadã” vence no primeiro turno

No segundo turno, em 15 de outubro, Luisa Gonzales enfrenta o direitista Daniel Noboa

Em maio, para se livrar do impeachment, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, utilizou, fraudulentamente, o dispositivo constitucional da “morte cruzada”, dissolveu o parlamento e convocou eleições gerais antecipadas para 20 de agosto.

Diante do bom resultado obtido nas municipais de fevereiro, o partido Revolução Cidadã (RC), do ex-Presidente Rafael Correa, que está exilado, vítima de perseguição judicial (lawfare), esperava ganhar em primeiro turno.

No entanto, sua candidata, Luisa González, não atingiu os necessários 40% votos, embora tenha conquistado o primeiro lugar com 33,5% dos votos, mesmo patamar da RC na eleição de 2021, quando Andrés Arauz (agora candidato a vice) obteve 32,7% dos votos. Para a Assembleia Nacional, no sistema de voto em lista vigente no Equador, a RC obteve 39% dos
votos e terá a maior bancada.

Luisa vai disputar o segundo turno com Daniel Noboa, um direitista multimilionário, que, até uma semana antes das eleições, era o último colocado dentre os oito candidatos, mas surpreendeu com 23,5% dos votos. Em terceiro lugar (16,5%), ficou outro direitista, o substituto de Fernando Villavicencio, que fora assassinado dia 09 de agosto.

Com o objetivo de beneficiar as multinacionais, Lasso tentou uma última cartada, convocando, junto com as eleições, uma consulta nacional, para autorizar a exploração petrolífera na terra indígena Yasuní: foi derrotado por 59% dos votos.

Outro destaque é o desabamento de Yaku Peres que, em 2021, como candidato do partido do movimento indígena Patchakutik, teve 19,4% dos votos e, agora, rompido com o partido, não chegou a 4%.

Parte da imprensa equatoriana atribui a meteórica subida de Daniel Noboa ao seu desempenho no debate havido no domingo anterior às eleições e ao impacto do assassinato de Villavicencio, o que fez girar os mais de 40% de indecisos, muitos jovens. É fato que houve essa influência, mas os fatores determinantes para Luisa não ter vencido no primeiro turno são outros, conforme avaliam companheiros equatorianos do Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI).

Por um lado, nunca cessaram os ataques sistemáticos contra o correismo, com dirigentes sempre tachados de “condenados por corrupção”. Por outro, a campanha de Luisa não priorizou propostas para resolver os problemas da população, em particular da juventude. Seus eixos eram o passado: “o ressurgir da pátria” e “com Correa estávamos melhor”.

Para enfrentar a ofensiva da burguesia pró-imperialista e vencer no segundo turno, será preciso dar uma virada na campanha e assumir compromissos claros com as reivindicações populares e a luta por soberania nacional, apoiando-se, inclusive, no resultado da consulta sobre a terra Yasuní.

Edison Cardoni e correspondentes

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