Em defesa da ciência, contra o capital

Como lutar pelo avanço da pesquisa científica em pleno imperialismo?

Gérard Bloch¹ foi cientista e militante porque, para ele, a luta em defesa da ciência era indissociável da luta pela expropriação do capital. De fato, a ciência não é neutra, mas enquadra-se nas relações sociais que são as do capital. Como escreveu Leon Trotsky, “a técnica e a ciência não se desenvolvem no vácuo, mas sim em uma sociedade humana, dividida em classes” (texto “Rádio, ciência, técnica e sociedade”, de 1926).

Bloch insistiu: “Os trabalhadores sabem, ao contrário dos cientistas e neocientistas, que as forças produtivas não são coisas cuja evolução deva ser avaliada apenas do ponto de vista quantitativo (…), mas sim uma relação social”. Citando o Manifesto da OCI (Organização Comunista Internacionalista), para o qual deu grande contribuição, escreveu: “Os efeitos dos avanços acelerados da ciência e da técnica estão quase exclusivamente restritos, direta ou indiretamente, ao campo militar (…); apenas alguns escassos subprodutos dessas conquistas do gênio humano entram na vida cotidiana das massas”.

Como marxista, Bloch conhecia o caráter do imperialismo: um regime social moribundo no qual as forças produtivas não crescem mais, enquanto a economia de armamentos se torna a força motriz da economia. É por isso que escreveu: “As forças produtivas que se desenvolveram sob o capitalismo manifestam assim seus traços específicos; de um lado, por sua tendência a se transformar em forças destrutivas; de outro, pelo caráter fragmentado do trabalho”.

Responsabilidade dos cientistas
Como militante revolucionário, ele lutou em defesa da ciência, parte integrante do combate da classe trabalhadora.
Diante das “autoridades científicas” da época, escreveu: “Sua qualidade de cientistas não lhes dá, em política, qualquer competência especial”. E frisou: “Cabe aos trabalhadores cientistas marxistas abrirem aos seus companheiros, a todos os homens de ciência, um outro caminho (…). O que esperam os médicos, por exemplo, e principalmente os mais notórios – que sabem que a política governamental em matéria de seguridade social significa o agravamento de uma situação já catastrófica na rede hospitalar e nas condições de trabalho do pessoal médico – para, em vez de persistir em ‘dar bons conselhos’ aos governantes, romper solenemente todas as relações com [este regime]? (…) O que esperam os cientistas, e os maiores dentre eles, para romper todas as relações com um regime (…) que está liquidando a pesquisa, a universidade, o ensino técnico e a educação nacional (…)”.
Não era uma denúncia, mas um chamado à responsabilidade dos cientistas, um combate para mobilizar pesquisadores e estudiosos em defesa da ciência contra o capital. (…)

Nós participamos da continuidade do combate que Bloch levou durante toda a sua vida. Em defesa da ciência e da pesquisa, combatemos todas as “autoridades científicas”. A grande massa de pesquisadores e cientistas quer defender seu trabalho. Muitos deles se mobilizam em defesa da universidade, da pesquisa. Inserem-se, dessa forma, na luta geral da classe trabalhadora contra o capital.

Como escreveu Trotsky, sob a dominação do capital em agonia, que é o imperialismo, “o pensamento científico e técnico avança não sem interrupção e fracasso”, porque o capital é um obstáculo ao desenvolvimento da ciência. Por isso concluiremos com Gérard Bloch: “O problema não é técnico; é político. É preciso quebrar os Estados imperialistas, estabelecer o poder dos conselhos – e então, as conquistas do gênio humano abrirão para os homens possibilidades ilimitadas, propriamente inimagináveis”.

Lucien Gauthier
do jornal francês “Informations Ouvières” (Informações Operárias)

¹ O francês Gérard Bloch (1920-1987) foi dirigente da 4ª Internacional. As citações foram extraídas do texto “Ciência, luta de classe e revolução”, escrito em 1969-1970. (Nota de OT)

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