Queda no número de inscritos e abstenção, curso superior fica inatingível
A primeira etapa foi dia 21 de novembro com 26% de abstenção, a próxima foi no dia 28. O exame é a principal forma de acesso ao ensino superior no país, portanto crucial para a juventude que busca um futuro digno. O governo faz balbúrdia no exame. Não à toa, em janeiro foi registrada a maior abstenção da história. Agora em novembro, a menor quantidade de inscritos. Apenas 3,1 milhões na disputa. O resultado é cada vez mais jovens fora das universidades.
Em vez de tomar medidas para corrigir o déficit de aprendizagem que milhões de estudantes sofreram com o ensino remoto na pandemia, o governo agiu para desmontar o exame. Ele comprometeu a lisura do processo, onde um policial federal obteve acesso antecipado ao conteúdo da prova que deveria estar em sigilo. Sem falar que Bolsonaro arrota autoritarismo e falsificação querendo reescrever a história, pedindo para que o golpe militar seja chamado de revolução. Nem a Mafalda escapa. Cerca de vinte questões foram censuradas, apesar de constarem no banco nacional de itens. Tamanha crise levou ao pedido de demissão de 37 servidores do INEP (Instituto Anísio Teixeira) na semana da primeira etapa, aumentando ainda mais a instabilidade em torno da realização do exame.
É criminosa a conduta do governo frente ao ENEM, ele realmente brinca com a vida de milhões de jovens que hoje são os que mais sofrem na crise com desemprego, fome e carestia, pobreza e aumento da violência. Milhões ficaram fora da escola em 2020 com o ensino remoto precário e excludente. Além dos vários que largaram os estudos para irem atrás de emprego. Restam outros que até tentaram, mas não conseguiram aprender à distância.
Os mais afetados foram os mais pobres, filhos da classe trabalhadora, que não contaram com lugar adequado para estudo, equipamentos e acesso à internet. Na volta presencial, que é essencial para garantia do ensino, o problema persiste. Faltam verbas, bolsas, professores, transporte e merenda. Fica o questionamento: como vamos passar na prova sem nenhum preparo anterior?
Universidade para poucos
Tudo isso é exemplo do desastre que esse governo representa para o país. A fala do ministro da educação Milton Ribeiro é sintomática nesse sentido ao afirmar que “a universidade deve ser para poucos”, os quais sabemos quem são: os filhos da elite, maioria branca, que não ficou sem acesso ao ensino presencial na pandemia, que pode pagar caro para estudar nas melhores escolas. O trato com os mais pobres é diferente. Ficou claro quando o governo proibiu a isenção de taxa para quem faltou no exame em janeiro, justamente o exame que teve a maior abstenção! Com o preço alto do gás e da comida, quais são as famílias que tem R$ 85,00 para pagar inscrição?
O projeto do governo é aumentar a desigualdade que é histórica no país. É o que percebem vários jovens, como a estudante Kemela Kelly que mora na periferia do DF. Inscrita no ENEM, ela afirmou: “Estou totalmente despreparada, fico sem esperança porque vários vão chegar melhor na prova. Como a gente ia estudar naquele ensino remoto? O governo só quer sabotar o estudante. Como a sociedade vai evoluir assim”? Fica cada dia mais claro. A manutenção desse governo está levando o país ao caos. Estudiosos afirmam que levará uma década para corrigir o déficit de aprendizagem que ocorreu na pandemia.
Enquanto estivermos de pé, vamos lutar
Afinal, é revoltante o ENEM que o próprio presidente afirmou “estar mais com a cara do governo”. Intervenções obscurantistas, quebra de sigilo, exclusão e despreparo são a marca desse governo na educação. Kemela quer cursar ciências da saúde para ajudar o país sabotado pelo presidente. Ela disse: “Ele matou milhares e tira o sonho de milhões. Educação não é chacota, ele deveria sair do twitter e tomar medidas pra a gente poder estudar. As salas do ENEM ficando vazias, isso precisa acabar. Enquanto eu estiver de pé eu vou lutar pra derrubar esse governo e pelo meu direito de estudante”. É o sentimento para seguirmos a luta.
Katrina