Espectro da fome atinge o mundo

A guerra na Ucrânia agravou o problema mundial da fome. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2021 os preços de alimentos subiram globalmente 23%, depois de anos de relativa estabilidade. Com a invasão da Ucrânia ordenada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em fevereiro, a elevação poderá atingir níveis inéditos.

Rússia e Ucrânia são grandes produtores de alimentos. Juntos, os dois países respondem por um quarto das exportações globais de trigo e um quinto das de cevada e milho, além de fornecerem mais da metade de óleo de girassol. Estima-se que 12% de todas as calorias consumidas no mundo saiam das duas nações.

O conflito fez os preços dispararem, porque a oferta diminuiu drasticamente. O trigo, por exemplo, que já estava 53% mais caro no início do ano, teve nova alta de 6% em maio.

A Rússia é também grande produtora de nutrientes, como potássio e fosfato, utilizados na fabricação de fertilizantes. Esses insumos tinham encarecido, no ano passado, em decorrência da alta de preços do gás natural. Agora, a elevação será ainda maior, o que afetará as vendas.

A diminuição no uso de fertilizantes levará a uma queda nas próximas safras e consequente aumento de preços, numa cadeia de alta de custos que agravará o fornecimento de alimentos.

“Agitação política”
Para o FMI, três crises compostas – guerra na Ucrânia, Covid e mudanças climáticas – dão origem a outra: a fome. O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou em 18 de maio que existe a ameaça do “espectro de uma escassez global de alimentos” que poderia durar anos.

Matéria da revista britânica “The Economist” expõe a gravidade do problema: “O alto custo de alimentos básicos já elevou o número de pessoas que não conseguem garantir comida suficiente em 440 milhões, para 1,6 bilhão. Aproximadamente 250 milhões de pessoas estão à beira da inanição. Se, como parece provável, a guerra se arrastar e as exportações da Rússia e da Ucrânia forem limitadas, outras centenas de milhões de pessoas poderiam chegar à miséria”.

A publicação reflete sobre o que pode ocorrer: “A agitação política se espalhará, crianças terão seu crescimento afetado e pessoas morrerão de fome”. O temor dos poderosos é que, antes de morrer de fome, as pessoas serão levadas a lutar contra isso.

Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) atribui à guerra um “risco agudo tanto de crises econômicas em alguns países, como de desastres humanitários e forte aumento da pobreza e da fome” (Valor, 8/6). A estimativa da organização é de crescimento global neste ano de apenas 3%.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o número de pessoas sem acesso a alimentação suficiente voltou aos níveis de 20 anos atrás. No mês passado, o mundo tinha 869 milhões de seres humanos desnutridos. Lutar contra a guerra e seus promotores faz parte do combate para deter essa barbárie – inerente ao sistema capitalista – que ameaça a humanidade.

Cláudio Soares

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