Em meio ao julgamento do assassino de George Floyd, vidas negras são ceifadas
O New York Times de 19 de abril registra 64 mortos pela polícia estadunidense desde o início do julgamento de Derek Chauvin, o assassino de George Floyd. Isso dá uma média de mais de três por dia e, em mais da metade dos casos, são negros ou latinos.
O assassinato de George Floyd teve repercussão mundial e desencadeou as mais importantes manifestações nos EUA em décadas.
Para responder a isso, mais de 30 estados aprovaram um total de 140 leis que deveriam diminuir a violência policial (levantamento do New York Times de 19 de abril), limitando os casos em que os policiais podem fazer detenções ou reduzindo a imunidade de que gozam perante os tribunais.
Mas, de três mortos pela polícia todos os dias, mais da metade negros e latinos, idêntica à média de 2020, mostra que essas leis são apenas cortina de fumaça.
A eleição de Biden e as leis aprovadas pelos estados democratas (bem como por alguns estados republicanos, aliás), não mudam em nada a situação dos negros. O mesmo artigo constata que “as leis e novos regulamentos adotados pelos departamentos de polícia em todo o país são insuficientes para atender às demandas do Black Lives Matter e de outros militantes, que pedem reformas em profundidade, mudanças culturais e cortes nos orçamentos das agências de manutenção da ordem”.
De fato, esses militantes estão pedindo reformas profundas, e a questão da polícia é apenas um sintoma particularmente chocante da situação que enfrentam, enquanto a epidemia de Covid-19 afetou principalmente os negros e os latinos, dadas as condições de vida.
Para a vacinação, a localização dos postos, a necessidade de fazer agendamento pela internet, de passar por seu plano de saúde, dificultam o acesso à vacinação para os mais desfavorecidos.
Esta situação é o pano de fundo do julgamento de Derek Chauvin. Assim, são milhares de manifestantes que se reuniram todos os dias em frente ao tribunal de Mineápolis, para exigir justiça para George Floyd e depois para exigir justiça também para Daunte Wright, negro assassinado em Mineápolis em 11 de abril por uma policial.
As manifestações foram severamente reprimidas pela polícia. A polícia teme que os protestos se alastrem, a ponto de espancar e prender jornalistas presentes, que faziam reportagem sobre as condições em que manifestantes foram presos.
Condições da explosão continuam reunidas
Derek Chauvin foi condenado, mas os assassinatos de negros pela polícia continuam e sua situação econômica e sanitária continua a piorar. Se a situação deles é particular, por causa da história dos EUA, inteiramente baseada na opressão específica de que são objeto, ela é o reflexo intensificado do destino reservado a todos os trabalhadores estadunidenses. Esta é a razão pela qual, no verão passado, uma camada significativa de jovens brancos, latinos e sindicalistas se juntou aos protestos após o assassinato de George Floyd.
Quase um ano depois, embora os democratas tenham ao mesmo tempo a presidência, o senado e a câmara dos deputados, as condições para a explosão ainda existem.